REVISTA FACTO
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Abr-Jun 2012 • ANO VI • ISSN 2623-1177
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//Artigo

Cristália a revolução das vacinas

Aprimeira vacina contra hepatite B para
administração oral deve ser liberada pela
Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa) nos próximos 18 a 24 meses. A
inovação só se tornou possível graças a um
novo adjuvante vacinal, que permite que
vacinas antes administradas apenas de forma injetável
possam ser usadas em gotas. A substância
consiste em uma sílica nanoestruturada, desenvolvida
pela equipe do pesquisador Osvaldo
Sant’Anna, do Laboratório de Imunoquímica do
Instituto Butantan, com a ajuda de técnicos do
Laboratório Cristália. O produto promete revolucionar
a imunização em massa.

“Essa descoberta vai permitir que crianças sejam
vacinadas contra doenças graves de uma forma
muito mais barata e com menos riscos de contaminação,
mas com a mesma eficácia”, afirma
Ogari Pacheco, presidente do Laboratório Cristália.
“Quando uma população é imunizada, é
comum que uma parte não fique protegida. Uma
das inovações do adjuvante é aumentar essa proporção”,
complementa.

Atualmente, apenas a vacina Sabin, contra paralisia
infantil, é administrada oralmente. A dificuldade
em se fazer uma vacina oral é que o suco
gástrico destroi as partículas de proteínas responsáveis pelo estímulo imunológico, o que foi resolvido
com a sílica.

“Se eu coloco um folheto na caixa de correio, a pessoa
pega e joga fora. Mas se divulgo a mesma propaganda
dentro de um envelope, ela vai abri-lo e verificar o que
tem dentro. A sílica faz o mesmo com o organismo,
induzindo-o a ver o que é interessante em informação”,
compara o pesquisador Osvaldo Sant’Anna.

Para ele, o estudo superou as expectativas. “Sinto-me
extremamente feliz por um aspecto simples: ninguém
no mundo pensou nisso. Nossa descoberta pode mudar
a história da vacinação”, vibra o professor.

A pesquisa já recebeu o Prêmio Prof. Eric Roger
Wroclawski, na categoria Pesquisa Clínica, concedido
anualmente pelo Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa
Albert Einstein. Durante estudos pré-clínicos, a
sílica nanoestruturada apresentou resultados promissores.
Os testes iniciais foram realizados com a vacina
da hepatite B, mas a sílica pode ser usada em qualquer
vacina. A equipe, agora, está elaborando o protocolo
de pesquisa clínica para submetê-lo à Anvisa e iniciar,
em breve, os estudos em humanos.

Patente liberada
A sílica nanoestruturada já tem patente concedida em
quatro países – África do Sul, Índia, Coreia e México
– e deve levar mais dois anos para ser aceita nos EUA
e Europa. No Brasil, o processo também está ainda
em tramitação.

“Estamos confiantes de que vamos conseguir todas
as patentes. Tanto que a Cristália já cedeu sua parte
nos direitos de propriedade industrial para o governo
brasileiro e as nações para as quais o País presta ajuda
humanitária, como a África Subsaariana. A tecnologia
poderá ser usada no sistema público de saúde, como
em campanhas de vacinação”, detalha Pacheco.

O laboratório direcionará sua estratégia comercial para
vacinas veterinárias, para vacinas terapêuticas e para as
vendas externas direcionadas a países desenvolvidos.

Novos negócios
Diante de ótimas perspectivas no mercado internacional,
o Cristália vai romper sua tradição de fechar parcerias
com empresas de seu porte, de olho na Europa
e nos Estados Unidos. A empresa de Itapira, interior
de São Paulo, já está negociando parceria com uma gigante
global de medicamentos para o licenciamento da
patente da sílica nanoestruturada.
Pacheco não revela os nomes dos interessados, mas
afirma que a movimentação financeira com os royalties
deve chegar a US$ 100 milhões por ano, turbinando
o faturamento esperado para 2012, de inéditos R$ 1
bilhão, depois dos R$ 600 milhões do ano passado. “O
produto é um blockbuster”, garante. Tradicionalmente,
o Cristália investe cerca de 6% de seu faturamento em
pesquisa e desenvolvimento.

Tanta comemoração com o novo adjuvante nacional revela
apenas uma ponta de tudo que vem pela frente, pois
a inovação no Cristália não pára. Mais 40 projetos estão
na linha de desenvolvimento atualmente, e boa parte
deles têm base em nano e biotecnologia. “São produtos
promissores, aos quais estamos nos dedicando com muito
afinco”, diz Pacheco.

Homenagem à equipe
O anúncio da concessão da patente para o governo
federal, e também para o Governo de São Paulo, foi
realizado no dia 5 de junho, na cerimônia em homenagem
ao professor Osvaldo Sant’Anna, do Instituto
Butantan, ao professor Jorge Kalil, diretor do Instituto,
e à professora Regina Scivoletto. Em discurso, Ogari
Pacheco reforçou que a aproximação entre o setor privado
e a academia é essencial para se obter resultados
em inovação.

O evento contou com a presença do ministro da Saúde,
Alexandre Padilha; do governador de São Paulo, Geraldo
Alckmin; do presidente da Assembleia Legislativa
do Estado de São Paulo, deputado Barros Munhoz; do
secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos
do Ministério da Saúde, Carlos Gadelha; do presidente
da Anvisa, Dirceu Barbano; e do secretário de
Estado da Saúde de São Paulo, Giovannni Guido Cerri.

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