Grupo Centroflora impulsiona crescimento econômico e social, a partir do uso de extratos vegetais brasileiros, com preservação ambiental, geração de renda e criação de tecnologia
A última reunião do Comitê de Fitoterápicos da ABIFINA, realizada em agosto, proporcionou aos representantes da indústria a oportunidade de verem, ao vivo, como anda o progresso tecnológico do setor. O encontro foi realizado na sede do Grupo Centroflora, em Botucatu, a 230 quilômetros de São Paulo – uma extensa área verde que conta com horta orgânica, jardim medicinal e instalações industriais altamente equipadas para a produção de extratos naturais. Nesse espaço que une tradição e modernidade em processos produtivos, a equipe técnica da Abifina e de suas associadas atestou: é possível, sim, fazer produtos baseados na biodiversidade brasileira com sustentabilidade. A experiência deu fôlego extra aos profissionais engajados na luta pela regulamentação e registro de fitoterápicos. “Se com toda a insegurança jurídica que assola o setor a Centroflora consegue desenvolver um trabalho ético, com tecnologia de ponta, um ambiente normativo favorável provocaria uma verdadeira revolução na indústria nacional”, avalia a assessora de fitoterápicos e propriedade industrial da Abifina , Ana Claudia Oliveira, que contou para a Facto os exemplos positivos que a Centroflora apresenta para o mercado.
Líder sul-americano na produção e no desenvolvimento de extratos vegetais padronizados, o Grupo Centroflora se destaca como o grande player no mercado nacional e internacional por conciliar sustentabilidade ambiental, social e econômica em seu trabalho. Mais que isso: transfere esses valores para as cadeias produtivas às quais está ligado. Essa meta vem sendo alcançada por meio do estabelecimento de parcerias. De um lado, clientes das indústrias farmacêutica, cosmética e alimentícia garantem a demanda. De outro, pequenas comunidades de produtores agrícolas fornecem matérias-primas naturais, gerando renda por meio do cultivo de plantas e do manejo de espécies nativas que dão base para a fabricação de produtos nacionais. É assim que a Centroflora contribui para o mercado aproveitar, com responsabilidade, o máximo da rica biodiversidade brasileira.
Fundada em 1957, na cidade de São Paulo, pelos empreendedores André Napoleão e Antônio Soares Filho, a Centroflora conseguiu estabelecer relações duradouras com clientes no Brasil, Estados Unidos, Europa e Ásia, sustentada por representantes comerciais em todo o mundo. O grande diferencial que o Grupo oferece para as empresas é o acesso facilitado a uma ampla rede de agricultores no Brasil, que produzem as mais variadas espécies vegetais. Se o cliente fosse buscar esses fornecedores por conta própria, levaria meses até encontrá-los – e se conseguisse fazer isso. “Temos know how para montar a cadeia de suprimentos completa para um novo produto”, explica Vânia Rudge, gerente de Sustentabilidade da Centroflora.
Para o atendimento às indústrias, o primeiro passo é a análise da planta de interesse. Questões como adaptação às condições ambientais, existência de produtores locais, técnica de cultivo utilizada e onde é possível se conseguir sementes vão determinar a escolha dos produtores parceiros. “A espécie a ser fornecida é determinante para o raciocínio que vamos desenvolver. Dependendo da planta, sabemos onde ela é tradicionalmente cultivada e vamos buscá-la na região. É um processo contínuo de melhoria, em que buscamos aproximação cada vez maior com nossa rede de agricultores fornecedores”, conta Vânia.
Qualidade sintetiza o resultado do modelo de negócio da Centroflora. Sabendo exatamente de onde vêm e como são produzidas as matérias- primas, o Grupo assegura sua rastreabilidade. Isso se traduz na manutenção do perfil fitoquímico das plantas em uma melhor reprodutibilidade dos extratos. Em outras palavras, a planta preserva as mesmas propriedades, seja ela produzida em São Paulo ou no Piauí.
Atuação em rede
Com o conceito de garantir o padrão de qualidade para os insumos naturais e obter os melhores ganhos para todos os elos da cadeia produtiva, a Centroflora criou o programa “Parcerias para um Mundo Melhor”. Por meio dele, o Grupo dispõe de polos de produção agrícola cadastrados em todo o Brasil, aos quais dá preferência em seus trabalhos. Três mil famílias são beneficiadas. O Grupo certifica os extratos produzidos com o selo de garantia que leva o mesmo nome do programa e atesta a origem, rastreabilidade e sustentabilidade do insumo vegetal para ser usado na fabricação de fitoterápicos, cosméticos, produtos de higiene pessoal, entre outros. A iniciativa tem abrangência mundial, possibilitando a milhares de consumidores a compra de produtos naturais seguros, eficazes, que não prejudicam o meio ambiente e melhoram a qualidade de vida das populações locais.
A seleção de potenciais fornecedores de plantas medicinais é feita constantemente em comunidades rurais, associações, cooperativas e pequenos produtores. Para o início de cada parceria é firmado um contrato entre a Centroflora e o cliente, e outro entre o Grupo e o agricultor. Por meio de seu departamento de Botânica e Sustentabilidade, a Centroflora garante a compra de safras planejadas e a transferência de tecnologia necessária para o campo.
Quando nenhum dos produtores cadastrados têm condições de atender à demanda, a empresa prospecta novos parceiros no mercado. Mais recentemente, o Grupo começou a experimentar com mais vigor outra opção – o manejo ambiental, em que as espécies são coletadas da natureza ou plantadas sem interferência no meio ambiente.
“Temos visto a técnica com bons olhos, pois é uma boa forma de conservar a biodiversidade, de manter a floresta em pé. O manejo está em nossa estratégia e o aplicamos sempre que for viável comercial, ambiental e socialmente”, diz Vânia.
As espécies selecionadas para cultivo pelo parceiro passam por acompanhamento de perto pela equipe da Centroflora, que faz análises botânica, agronômica e de viabilidade. O programa “Parcerias para um Mundo Melhor” tem ainda relação com outras ações da Centroflora. Um percentual do faturamento do produto final é acordado com o cliente para ser aplicado em projetos socioambientais. Parte vai para o Instituto Floravida, organização sem fins lucrativos criada e mantida pelo Grupo Centroflora para fomentar ações em favor do desenvolvimento sustentável das comunidades e lugares onde atua.
“O projeto “Parcerias Para Um Mundo Melhor” garante a compra das safras encomendadas a preço justo, além de viabilizar a agricultura orgânica com qualidade, a preservação da mata nativa, a distribuição de renda, o desenvolvimento tecnológico e as visitas técnicas periódicas aos produtores”, ressalta o diretor científico da Centroflora, Ricardo Dias.
Processo produtivo
Depois da colheita e secagem das plantas, a Centroflora analisa o material e comprova a qualidade. Em seguida, faz a extração das substâncias ativas, por meio de solventes seguros e recicláveis, como água, etanol e glicerina vegetal. Os extratos são, então, concentrados e secos, a partir de tecnologias que garantem a integridade do princípio ativo e excipientes sem manipulação genética.
Há uma lista de casos de sucesso a partir das parcerias firmadas. Usando a erva baleeira, a Centroflora criou com o laboratório Aché o primeiro fitomedicamento ético desenvolvido e produzido no Brasil, o Acheflan. O jambu deu origem ao cosmético para tratamento anti- sinais Chronos Spilol, da Natura. Isso apenas para citar alguns exemplos.
Como parte da estratégia para garantir o fornecimento em caso de problemas climáticos, infestações de pragas ou outros problemas nas lavouras, o Grupo Centroflora mantém duas fazendas próprias, onde também testa as condições de produção. A Anidro do Brasil Desidratação, empresa de serviços do Grupo Centroflora, responde pelo atendimento às indústrias alimentícia, farmacêutica e de suplementos dietéticos em suas crescentes necessidades de ingredientes naturais desidratados. Já a Vegeflora é a farmoquímica do Grupo e fica localizada na cidade de Parnaíba, no Piauí, onde funciona o projeto Tabuleiros, com a produção de vários hectares de acelora, jambu, jaborandi, coco e cordia. Toda matéria-prima processada na Vegeflora se baseia no cultivo de manejo sustentável.
A Anidro abriga a sede do Grupo – uma área remanescente de serrado que dispõe de espaços para experimentação agrícola. A área florestal inclui horta orgânica, jardim medicinal com o cultivo orgânico de mais de 300 espécies de plantas, o Instituto Floravida, e o Projeto Centrofauna, que promove a reabilitação de animais silvestres. Além disso, a unidade conta com as instalações industriais altamente equipadas, com capacidade para processar até 600 toneladas por mês de plantas desidratadas.
A sede dispõe de infraestrutura e tecnologia para a secagem de extratos fluidos e de polpas vegetais, sem degradação dos princípios ativos ou perda das propriedades nutricionais. A empresa tem capacidade para desidratar 100 toneladas de pó por mês e está equipada com tanques de preparo de soluções, pasteurizador de placas, homogeneizador de alta pressão e dois equipamentos para secagem em spray. Com um rigoroso programa de qualificação de fornecedores, além de controles físico-químico e microbiológico de matérias-primas e produtos acabados, a Anidro garante a qualidade de seus produtos.
Na planta da Anidro em Botucatu, o Grupo Centroflora pratica dentro de casa a sustentabilidade que recomenda para o mercado. A partir de um sistema de coleta, a água das chuvas é reaproveitada para o resfriamento do telhado, levando à redução no uso do ar-condicionado. A empresa também faz a compostagem dos resíduos vegetais e doa o material para os agricultores usarem na fertilização das lavouras. “Apostamos no ciclo fechado de produção”, reforça Vânia.
Inovação
A Centroflora foi pioneira no desenvolvimento do processo de secagem por atomização dos extratos destinados à indústria farmacêutica. Até então, o mercado brasileiro conhecia apenas extratos líquidos e moles, que eram transformados em comprimidos após um difícil processamento tecnológico. A inovação, uma ruptura de paradigma no setor farmacêutico, projetou o grupo nacionalmente e contribuiu para firmar sua posição de liderança. Em 2010, a Centroflora produziu 1,5 mil toneladas de extratos líquidos e 3 mil toneladas de extratos secos.
O Grupo se diferencia no mercado por viabilizar a inovação junto com o cliente. Em um setor com muito estudo ainda por ser feito e desafios regulatórios que ameaçam as pesquisas – e que estão longe de serem sanados -, a Centroflora desenhou uma estrutura completa para atender os clientes desde o primeiro desenvolvimento. O Departamento de Inovação oferece suporte para a criação de novos extratos botânicos, baseado no suprimento de matéria-prima sustentável, na inovação do extrato, no amparo legal e no atendimento técnico- comercial especializado.
Os projetos gerenciados pelo Departamento de Inovação usam tanto plantas nativas como exóticas adaptadas, quase sempre envolvendo inovação e patentes. São extratos de caráter proprietário que geram novos produtos, baseados em estudos clínicos para medicamentos, cosméticos ou nutracêuticos. Para isso, a Centroflora também forma parcerias com universidades, institutos de pesquisas ou até outras empresas. A gestão dos projetos proprietários faz parte do trabalho, com suporte desde a concepção da ideia até o fim do desenvolvimento do produto.
“Muitas vezes, a planta é o gargalo para a produção industrial. Ela pode não ter sido ainda cultivada em área agrícola, por exemplo. Então, fazemos pesquisa e desenvolvimento agrícola e de botânica, descobrindo como se reproduz a espécie no campo, se ela tem ativos de interesse, como as mudas se multiplicam. No mercado farmacêutico, este não é um serviço comum”, aponta a gerente de Sustentabilidade da Centroflora. “Em paralelo a essa atividade, damos suporte relativo aos extratos na área industrial. Ajudamos o cliente, pois conhecemos as técnicas de extração para obter os ativos de interesse”, completa.
Garantias para o mercado
Estar alinhada aos padrões internacionais de produção também faz parte da estratégia da Centroflora, em uma política que estabelece confiança ainda maior para o serviço prestado ao mercado. A empresa segue as Boas Práticas de Fabricação e está em consonância com as normas ISO 9001 – de gestão da qualidade – e ISO 22000 – de gestão da segurança alimentar. Também possui certificação Kosher – que atesta que o alimento foi feito de acordo com as leis alimentares judaicas, abrindo as portas da Centroflora para este nicho de mercado.
As atividades do Grupo estão, ainda, certificadas pelo Instituto Biodinâmico (IBD), credenciado pelo International Federation of Organic Agriculture Movements (IFOAM), que garante o processamento de extratos 100% orgânicos. Na mesma linha, a Centroflora conta com as certificações USDA e Ecocert. A Vegeflora, especificamente, tem um controle a mais: passa por inspeções regulares da Food and Drug Administration (FDA), agência norteamericana para o controle de alimentos e medicamentos.