Fonte: Globo Online
15/01/25

Por Roberta de Souza — Rio de Janeiro

14/01/2025 07h49

Uma quadrilha produzia anabolizantes clandestinos com repelente de insetos, vendendo-os em diversos estados. A polícia prendeu 12 pessoas até agora, incluindo o principal suspeito. O grupo usava substâncias tóxicas e nocivas, gerando um prejuízo de mais de R$ 500 mil. Investigações revelaram movimentações de mais de R$ 80 milhões pelas contas dos envolvidos. Medidas judiciais bloquearam contas bancárias para evitar lavagem de dinheiro. A operação visa identificar revendedores, influenciadores e atletas patrocinados no esquema.
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A quadrilha especializada na fabricação e venda de anabolizantes clandestinos — alvo de operação da Polícia Civil e do Ministério Público do Rio — usava repelentes de insetos na composição dos produtos que vendia, inclusive para outros estados. Segundo as investigações, as substâncias eram fabricadas clandestinamente e sem fiscalização das autoridades sanitárias. As fórmulas contêm substâncias tóxicas e nocivas para seres humanos.

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Na manhã desta terça-feira, na casa do principal alvo, em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio, durante a operação, equipes encontraram os produtos armazenados no chão de cômodo, dentro de um móvel, armazenados em sacos plásticos e em caixas de papelão.

Os denunciados responderão por associação criminosa, crime contra a saúde pública e crimes contra o consumidor.

Dezesseis pessoas foram presas até o momento — uma delas em flagrante. Entre elas estão Miguel Barbosa de Souza Costa Júnior, o Boss, o alvo principal dos agentes, e a esposa dele. O casal estava numa mansão em São Gonçalo. De acordo com o telejornal, há pelo 50 pessoas envolvidas no esquema. Nesta primeira fase, os alvos são os que fabricam e comercializam os anabolizantes.

O corregedor do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público, Pedro Simão, afirmou, em coletiva realizada na Cidade da Polícia nesta manhã, que a movimentação financeira dos investigados foi registrada em contas vinculadas à venda dos produtos nas plataformas. De acordo com a investigação, as embalagens dos anabolizantes continham QR Code, que direcionava os consumidores para os sites onde podiam comprar os produtos de fabricação clandestina. As embalagens dos anabolizantes eram produzidas de forma a parecer uma empresa regularizada.

— A asfixia financeira foi obtida por meio da ordem judicial de bloqueio de valores, no montante de R$ 82 milhões, quantia movimentada pelo grupo criminoso. Durante a apuração, foi identificado, em conversas em aplicativos de mensagens, uma troca de informações entre o líder da associação e os produtores dos anabolizantes. Esses produtos, de procedência desconhecida, eram fabricados clandestinamente. Entre as conversas, foi revelada a utilização de benzoato de metila, uma substância empregada no tratamento de sarna e infestação de piolhos. O uso dessa substância gerava um risco significativo não só para a integridade física dos consumidores, mas também para a vida de quem fabricava, adquiria ou utilizava os produtos — explicou Pedro Simão.

A quadrilha é responsável por diversas marcas, segundo as investigações do Gaeco, que identificaram Next Pharmaceutic, Thunder e Plus Suplementos como parte do conglomerado envolvido na venda de anabolizantes. O grupo as divulgava por meio de patrocínio de grandes eventos de fisiculturismo e de atletas profissionais, além de remunerar influenciadores digitais, numa estratégia para alavancar as vendas. A comercialização também era feita online.

Segundo a polícia, após esta operação, as investigações continuam a fim de identificar revendedores, influenciadores e atletas patrocinados envolvidos no esquema. Eles chegavam a receber mais de R$ 10 mil mensais para promoção das marcas.

“A denúncia é de 23 envolvidos num esquema grande, de produção e comércio de anabolizante”, disse o delegado Luiz Henrique Pereira, titular da 76ª DP, ao Bom Dia Rio.

A “Operação Kairos” conta com Policiais civis da 76ª DP (Niterói) e agentes do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público. Os agentes cumprem mandados de prisão e de busca e apreensão no Rio de Janeiro e em Brasília. A ação conta com o apoio da Coordenação de Repressão às Drogas (CORD) da Polícia Civil do Distrito Federal.

Investigação

O grupo enviava os produtos clandestinos pelo correio para diversos estados, incluindo endereços no Rio de Janeiro. Por meio de uma parceria do Setor de Inteligência da Delegacia com os Correios foram identificados que se tratavam de grandes quantidades de remessas de substâncias anabolizantes enviadas diariamente. As investigações começaram em junho de 2024.

A partir deste período, foram apreendidas mais de 2 mil substâncias ilícitas que seriam remetidas, gerando um prejuízo de mais de R$ 500 mil ao grupo.

A Polícia Civil identificou que as vendas destes produtos falsificados e irregulares eram feitas através de plataformas online e redes sociais. Descobriu-se que houve movimentação de mais de R$ 80 milhões pelas contas bancárias de alguns dos investigados.

A Justiça determinou o bloqueio das contas bancárias de todos os envolvidos, que ainda incluem operadores financeiros, que tinham como função pulverizar a entrada e saída de quantias milionárias para dificultar possíveis investigações, explica a polícia.

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