Fonte: Diário do Comércio
26/06/24

A partir do final do século passado o agronegócio no Brasil cresceu de importância na economia local, ao mesmo tempo em que o País se firmou como um dos maiores produtores mundiais de alimentos. Somos ou estamos bem próximos de ser o celeiro do mundo, resultado de planejamento combinado com políticas assertivas que possibilitaram ganhos de produção e de produtividade que equivalem, em alguns casos superam, os melhores padrões internacionais. Fizemos muito, fizemos bem feito, mas em alguns aspectos involuímos. Por exemplo, no que toca ao suprimento de adubos e defensivos agrícolas em que a dependência externa cresceu de maneira desproporcional.

De acordo com estimativas mais recentes, em 2022 o consumo somou 37,72 milhões de toneladas e as importações variaram entre 70% e até 86% do total, estabelecendo-se dessa forma uma situação de dependência que ficou clara com o conflito entre Rússia, nosso principal fornecedor, e Ucrânia. Uma fragilidade que parece não ser percebida na sua mais exata dimensão e pode ser um fator limitador, muito provavelmente o único, para as ambições do país de chegar à condição de maior produtor agrícola no planeta. Com a produção de grãos beirando 300 milhões de toneladas na safra 2023/24, o que consolida a posição do setor na composição do produto interno (PIB) nacional, sem lugar a dúvida esta é uma questão que requer mais atenção.

Outro ponto de extrema fragilidade acaba de ser revelado e nos dá conta de uma quarta parte dos adubos e defensivos agrícolas que chegam ao mercado brasileiro são falsificados, verificando-se a existência de uma indústria paralela muitíssimo bem estruturada, cujas atividades representam evidente prejuízo para os produtores agrícolas e para a saúde pública, sem contar perdas tributárias estimadas em R$ 20 bilhões/ano. Segundo autoridades policiais que trouxeram a lume estes fatos, houve casos em que “terra da pior qualidade” chegou a ser apresentada e vendida como adubo.

Os riscos podem ir além, comprometendo a própria continuidade dos bons negócios que o Brasil vem realizando mundo afora. Como é sabido, os controles externos são bastante rígidos e não dizem respeito exclusivamente à qualidade dos produtos ofertados. Questões ambientais estão ganhando peso decisivo nas escolhas, o mesmo acontecendo com relação às condições orgânicas dos produtos ofertados. Nesse sentido, o uso de defensivos que são proibidos lá fora e, agora, a constatação de que produtos falsificados são utilizados em larguíssima escala representam riscos que numa perspectiva de futuro podem se revelar fatais para o País.

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