Fonte: Leia Agora 18/01/23
15/01/2023 às 08:00
Logo após efetivada a redução de 80% dos crimes contra instituições financeiras, garantindo mais de um ano e meio sem atividades do novo cangaço em Mato Grosso, ter reduzido o roubo de cargas em 32%, em 19% os crimes contra defensivos agrícolas, tendo apreendido 116 toneladas desses produtos falsificados, adulterados ou furtados, enquanto atuava como titular da Gerência de Combate ao Crime Organizado, o delegado Vitor Hugo Bruzulato assume um novo tipo de desafio: é o novo chefe da Diretoria de Atividades Especiais da Polícia Civil.
Isso significa que ele estará como diretor das atividades das 10 delegacias especiais de Mato Grosso: Delegacia Especializada de Repressão a Crimes Informáticos (DRCI); Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE); Delegacia Especializada do Meio Ambiente (Dema); Delegacia Especializada em Crimes Fazendários (Defaz); Delegacia Especializada de Combate à Corrupção (Deccor); Delegacia Especializada de Fronteira (Defron); além das Gerências de Combate ao Crime Organizado (GCCO); Gerência de Operações Especiais (GOE);Gerência de Operações Aéreas (GOA); e Gerência Estadual de Polinter e Capturas (Gepol).
No currículo, Bruzulato traz um perfil operacional, de quem se aprimorou em investigar e apresentar resultados rápidos, graças às passagens por unidades operacionais como a Delegacia de Roubos e Furtos de Veículos Automotores e Delegacia Especializada no Meio Ambiente. Além disso, traz também a experiência de quem atuou no interior em tempos idos e enfrentou desafios da investigação com poucos recursos.
Agora, ele quer empregar todo essa habilidade para integrar as unidades da Diretoria de Atividades Especiais entre si e com o restante da Polícia Judiciária Civil para enfrentar a criminalidade e tendo um dos maiores desafios da atualidade, o combate às facções criminosas.
O Leiagora conversou com Vitor Hugo e traz um pouco da sua história e do seus planos no combate ao crime.
Confira abaixo a entrevista na íntegra:
Leiagora – Delegado, você recentemente comandou o GCCO, já chefiou também a DRE e chegou agora à Diretoria das Atividades Especiais. Gostaria que você falasse qual é a marca do seu trabalho. O que te trouxe até aqui?
Delegado Vitor Hugo – Eu comecei em 2007 lá em Jaciara. Trabalhei com experiência no interior do estado. Trabalhei em Rondonópolis, trabalhei em Primavera do Leste, Paranatinga. Então eu conheço as unidades do interior. Elas, infelizmente, na época tinham pouca estrutura. Então com toda essa dificuldade a gente vai evoluindo como profissional. Isso me ajudou bastante na construção da minha carreira.
Vindo para Cuiabá, em 2013, eu trabalhei na Delegacia do Meio Ambiente, uma unidade que me foi uma escola. A gente trabalhando, imagina, meio ambiente em um estado dessa dimensão, com os biomas que nós temos, com as dificuldades de desmatamento, questão de pesca predatória. Então foi um grande aprendizado e também foi construindo minha evolução profissional.
A partir do momento que saí da Delegacia do Meio Ambiente e fui para a Delegacia de Roubos e Furtos de Veículos Automotores, a DERRFVA, naturalmente, por ser uma unidade extremamente operacional, eu tive que aprimorar essa parte operacional. Desde então eu comandei, depois da DERRFVA, a DRE e por último a GCCO. Então meu carro-chefe é esse lado operacional, desenvolvendo operações.
Nessas três unidades nós deflagramos grandes operações, importantes no cenário de segurança pública, no contexto de segurança pública, trazendo reflexos como a redução da criminalidade, principalmente quando a gente fala da criminalidade organizada, no roubo de veículos, tráfico de drogas e agora, na GCCO, que é bem mais amplo, envolve bancos, instituições financeiras, defensivos, cargas, tem a antissequestro também, então essa pegada minha para o lado operacional eu acho, ou todo conjunto, foi o que me trouxe aqui para diretoria.
E fico muito feliz com o reconhecimento, ter recebido o convite da nossa delegada-Geral, doutora Daniela. Me sinto feliz e honrado, e com muito trabalho, com muito comprometimento, dedicação, procuro corresponder a esse importante cargo da Polícia Civil que é a Diretoria de Atividades Especiais.
Leiagora – Desde a Delegacia de Roubos e Furtos de Veículos e depois da Repressão a Entorpecentes e no GCCO você acabou trabalhando muito no combate ao crime organizado. Seu último trabalho, na GCCO, é especializado nisso, até um pouco mais amplo. Como foi sua passagem pelo GCCO, um núcleo tão visado da PJC sempre em evidência. Como foi desenvolver um trabalho lá?
Delegado Vitor Hugo – Realmente, a Gerência de Combate ao Crime Organizado é uma unidade muito importante para a Polícia Civil. Logo quando eu cheguei tivemos um acréscimo de atribuição que foi o roubos e furtos de carga. E quando a gente fala desses crimes patrimoniais, a atribuição da GCCO é em todo estado, então foi uma grande dificuldade enfrentada ali no início da minha gestão no GCCO.
Mas, com os ajustes que a Polícia Civil conseguiu fazer, nós viramos uma referência na repressão aos roubos e furtos de carga nacionalmente. A gente teve, no final do ano, um encontro nacional. Nós conseguimos reduzir os números de furto, especialmente de furto de cargas aqui no nosso estado. Fizemos diversas operações, destaco a operação Grãos de Areia, que foi importante nesse contexto para diminuir os furtos de carga nesse contexto, as operações Safra 1 e 2, tivemos duas etapas dessa operação também muito importante nesse contexto.
Leiagora – De alguma forma isso dificultou a atuação em outras áreas?
Delegado Vitor Hugo – Mesmo com essa atribuição tão grandiosa e tão complexa, nós não deixamos de lado, durante nossa gestão, as outras atribuições. Nós cuidamos ali da parte dos bancos, dos crimes contra as instituições financeiras.
Também tivemos uma situação em 2021 que foi a volta de uma ação do novo cangaço aqui no interior do estado, em Nova Bandeirantes. Nós conseguimos identificar e prender todo grupo criminoso, além daqueles confrontos com as forças policiais que aqueles criminosos vieram a óbito. E com isso, com essas ações repressivas, estamos há um ano e meio sem ação do novo cangaço no nosso estado.
Tivemos a redução, em 2022, de 80% dos roubos contra instituições financeiras no estado. Isso é fruto desse trabalho do GCCO. É claro, ninguém trabalha sozinho. Também em parceria com todas as forças de segurança do Estado. Polícia Militar, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Federal, Gefron, nós temos, enfim, todas as forças de segurança trabalhando com o mesmo objetivo.
Além disso, nós temos também outro número que chama bastante atenção é em relação aos defensivos agrícolas. Nós batemos o recorde na apreensão de defensivos agrícolas, fruto de trabalho investigativo repressivo da unidade, tivemos um aumento de mais de 500% de apreensão se comparar com 2021. Foram 116 toneladas de defensivos agrícolas produto de crime, falsificados, roubados e furtados. E com essa ação também conseguimos reduzir os furtos de defensivos no nosso estado.
E porque esse número é tão importante? Nós estamos falando de um estado que é o maior produtor de grãos do país. Consequentemente isso atrai os olhares das organizações criminosas. Por isso a importância desse trabalho repressivo.
Além dos trabalhos contra as facções criminosas. Nós fizemos várias operações nesse sentido. A GCCO tem uma força tarefa em conjunto com a Polícia Federal e fizemos várias operações. Uma em destaque em Sorriso. Conseguimos diminuir os números da criminalidade, reduzir a criminalidade violenta que estava acontecendo naquela região. São vários trabalhos que fizemos ao longo dessa gestão.
Leiagora – Como você mesmo disse, Mato Grosso é o estado eminentemente agrário, com a maior produção agrícola do país, então é muito importante para o agronegócio o combate ao roubo de cargas e de defensivos agrícolas. Por que se tornou competência da GCCO a responsabilidade do enfrentamento a esses crimes? Eles se tornaram prática do crime organizado nesses crimes?
Delegado Vitor Hugo – Sim. Além dessa preocupação por atrair organizações criminosas, são crimes que não são praticados por meliantes comuns. Roubar uma carga não é qualquer um que tem condições. É preciso ter toda uma estrutura criminosa voltada para prática desse delito. Já tem que ter o receptador, e esse foi um dos nossos focos, porque o receptador é quem fomenta esse tipo de crime.
Mas tem que ter uma estrutura criminosa voltada para o crime. A grande maioria dos roubos e furtos de carga é praticada por organizações criminosas porque tem que ter estrutura. Lugares, ou mesmo fazendo para fazer a receptação. Ou grandes galpões, caminhões, veículos preparados para fazer o transbordo, o transporte da carga. Enfim, existe o mínimo de estrutura para a prática do crime. Esse é o primeiro motivo.
O segundo motivo dessa atribuição ter ido ao GCCO é porque geralmente são crimes praticados envolvendo mais de um municípios, ou até mesmo mais de um estado. Então, como a GCCO tem atribuição estadual, ela é importante para ter essa visão macro da atividade criminosa. Por esses motivos, a atribuição passou a ser do GCCO.
Leiagora – Combate ao crime organizado. Não só a PJC, como todas as forças de segurança têm atuado muito nessa questão, mas mesmo assim as facções criminosas vêm, pouco a pouco, avançando. O que está sendo feito e o que é preciso para frear o avanço das facções criminosas?
Delegado Vitor Hugo – Nós já fizemos vários trabalhos. Temos força-tarefa criada onde estão presentes Polícia Civil, Polícia Militar, Polícia Rodoviária Federal e Polícia Federal. Nós fizemos ações em 2022, para poder combater essas facções criminosas.
Nosso planejamento para 2023 é de intensificar essas ações. Fortalecer essas unidades de combate ao crime organizado, fazer um enfrentamento ao tráfico de drogas, intensificar as ações contra o tráfico de drogas, porque quando a gente fala de facções, o carro chefe, o que fomenta e alimenta essas facções é o tráfico de drogas. Então vamos intensificar essas ações de combate, de repressão ao tráfico de drogas.
E quando a gente fala de tráfico de drogas estamos falando de todas as modalidades. Desde o tráfico doméstico, o tráfico formiguinha, até um tráfico mais robusto, os grandes traficantes utilizam o estado como rota para transportar para outros lugares, outros estados. Em todos os setores, em todos os segmentos do tráfico, vamos intensificar as ações, como também vamos priorizar e reforçar esse combate às facções criminosas, falando do crime organizado em si.
Leiagora – Desse período que você ficou no GCCO, qual o trabalha mais te deixou orgulhoso. O que você considera a sua maior vitória?
Delegado Vitor Hugo – Olha, é difícil elencar um. Foram vários trabalhos importantes em cada área de atribuição. Sinceramente, não sei elencar um específico. Todas as ações, no roubo de carga e defensivos agrícolas, bancos, tem sua importância, mas naquela área, naquele setor específico.
Temos a redução de 80% do roubo a banco, sem a ação de novo cangaço há mais de um ano e meio, como disse antes, lembrando que constantemente estamos vendo essas ações em outros estados, em várias modalidades, novo cangaço noturno, diurno, domínio de cidade…
Em razão da complexidade, da violência empregada, a investigação do novo cangaço foi uma ação impactante, tanto é que o reflexo está aí. E a gente conseguiu identificar todo grupo criminoso, apresentando resultado satisfatório ao judiciário e principalmente à sociedade, que sofreu muito com aquela ação violenta. Uma ação extremamente violenta. Foi uma resposta bastante importante do Estado, por parte da segurança pública, então eu acho que foi uma das ações mais importantes da época da minha gestão no GCCO.
Leiagora – Vamos falar mais um pouco sobre o seu novo desafio. Você traz toda uma experiência muito operacional para a Diretoria de Atividades Especiais. Como você espera que isso te ajude?
Delegado Vitor Hugo – O objetivo nosso é intensificar as ações em todas as unidades da DAE, consequentemente deflagrando mais operações em todas as unidades. Nós temos aí o combate aos crimes do Meio Ambiente, combate à corrupção, crimes de informática, que estão em uma crescente com a prática de vários golpes utilizando computadores e celulares.
Então é intensificar as ações, as investigações e consequentemente operações em todas as unidades. São 10 unidades da Diretoria de Atividades Especiais. E auxiliando, estando próximo das unidades, auxiliando nessa parte operacional, no planejamento operacional principalmente, para que possamos ter um reflexo, uma consequência positiva para sociedade.
A ação policial tem que ser positiva ao ponto de ter uma redução de criminalidade, resgatando a paz social, pensando no cidadão de bem.
Leiagora – Delegado, você já chefiou a Delegacia de Repressão a Entorpecentes e, falando no combate às facções criminosas, focou muito no combate ao tráfico de drogas. Essa vai ser a tônica no combate ao crime organizado? Atacar a fonte de renda deles?
Delegado Vitor Hugo – Você falou um ponto muito importante também que eu quero destacar. Não vai ser somente a parte operacional. Nosso objetivo à frente da Diretoria de Atividades Especiais é fazer um trabalho integrado não só entre as unidades da DAE, mas também com as unidades da Diretoria Metropolitana, vou dar um exemplo aqui, as delegacias de roubos e furtos. Estar mais próximo, estar mais integrado, estar interagindo com essas unidades. E também com o interior do estado. Temos aí, por exemplo, regionais como Rondonópolis, Sinop, Juína, Cáceres…
São regionais, dentre outras, que vamos ter uma integração, uma interação, para que a gente possa, não só a DAE, mas a Polícia Civil fazer um combate efetivo dessas ações dos grupos criminosos, nas organizações criminosas, no tráfico de droga, nos crimes patrimoniais, trabalhando em conjunto, interagindo.
E, principalmente, após esse trabalho integrado, a gente trabalhar também com patrimônio, combatendo rigorosamente a lavagem de dinheiro. Sequestrando imóveis, bens do grupo criminoso, enfraquecendo financeiramente essas facções, atacando na parte patrimonial com bloqueio de contas. Ano passado, só o GCCO conseguiu R$ 8 milhões em bloqueios de contas. Intensificar essas ações, dar um suporte para as diretorias metropolitanas e do interior, para que a gente possa ter não só o combate de prisões, mas também atacar o patrimônio dessas facções.
Leiagora – Qual é seu maior desafio à frente da DAE, a meta a ser batida, o desafio a ser superado?
Delegado Vitor Hugo – O grande desafio é contribuir para que possamos ter um estado mais seguro, mais tranquilo, tendo o cidadão de bem a paz que tanto merece. Com essas operações, que a gente tenha consequências positivas, reduzindo os índices de criminalidade, contribuindo para a redução, porque não é só um trabalho da Polícia Civil, mas também da Polícia Militar, da Polícia Rodoviária, da Polícia Federal, mas que com essas ações a gente possa contribuir para ter um estado mais seguro, com mais tranquilidade para o cidadão de bem.
Eu ficarei muito satisfeito se com essas ações a gente possa alcançar esses resultados.
Leiagora – Nas ruas, umas das maiores preocupações das pessoas é com as facções criminosas. Essa vai ser uma das prioridades da DAE?
Delegado Vitor Hugo – Nós não vamos admitir que o cidadão tenha que ficar refém de bandido. Em alguns cenários, infelizmente, o cidadão de bem está preso, recluso, fazer seguro residencial, seguro de casa, câmeras de segurança, preso em casa e a criminalidade solta. A gente vê, acompanha e faz o combate efetivo em casos onde existe de um domínio maior das facções. É feito um estudo por parte da Polícia Civil, da GCCO, então nós não vamos deixar essas facções dominar os bairros, as cidades. Esse é um ponto fundamental da gestão.
E a sociedade vem nos ajudando muito através das denúncias. E isso é importante, temos garantido o sigilo da fonte, o que nos interessa é a informação, porque precisamos saber identificar o problema.
Leiagora – Para finalizar, você pode deixar uma mensagem para a população.
Delegado Vitor Hugo – O que posso falar para sociedade é que vou me dedicar, como sempre fiz ao longo da minha carreira. Não vai faltar comprometimento, dedicação, muito trabalho para poder contribuir com a Polícia Civil, com a Secretaria de Segurança Pública, tendo como principal objetivo deixar a sociedade mais segura para o cidadão de bem, que merece. Sempre darei o máximo pensando na sociedade, no cidadão de bem.