Fonte: Correio da Manhã
05/11/25

Por Marcelo Brandão*

Publicado em 03 de Novembro, 2025 às 0:03

Um estudo recente da USP em parceria com o Instituto Ipsos revelou um dado alarmante: até 25% dos brasileiros aceitam consumir produtos ilegais. Quando olhamos para setores como bebidas alcoólicas (24%), eletrônicos (20%) e vestuário (25%), percebemos que o consumo de falsificados e adulterados já não é apenas uma prática pontual — é um comportamento normalizado.

E o mais preocupante: essa aceitação não está restrita às classes mais baixas, como muitos imaginam. A pesquisa mostra que o consumo de produtos ilegais está presente em todas as faixas socioeconômicas. Isso revela que o problema não é apenas econômico, mas cultural.

Muitos consumidores acreditam que estão ‘levando vantagem’ quando optam por produtos falsificados ou contrabandeados. O argumento comum é o preço. Mas o custo real é outro — e muito mais alto.

Cada produto ilegal adquirido financia redes criminosas, fomenta o trabalho escravo, incentiva o contrabando, a evasão fiscal e enfraquece o ecossistema de empresas sérias que geram emprego, inovação e pagam impostos.

A Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI) estima que o mercado global de falsificações movimente mais de 2,3 trilhões de dólares por ano.

No Brasil, são bilhões em impostos perdidos e milhares de empregos extintos por causa da pirataria e da falsificação.

Por trás de cada produto falso há uma cadeia de prejuízos. Empresas que investem em pesquisa e desenvolvimento, em design, em tecnologia e qualidade veem seus esforços sendo copiados por quem não arrisca, não investe e não gera valor real.

O resultado é um desestímulo à inovação e um desequilíbrio competitivo que corrói a economia e a confiança do consumidor. Consumir o falso é aceitar o atalho, e atalho algum leva ao progresso.

Enquanto sociedade, precisamos ressignificar a ideia de ‘vantagem’.

A verdadeira vantagem está em fazer o certo, em valorizar quem cria, quem protege e quem inova. E isso começa pela educação em propriedade intelectual, pela consciência de consumo responsável e pela valorização da originalidade.

Empresas, governos e instituições de ensino precisam tratar esse tema com urgência — não apenas como uma questão de mercado, mas de cidadania.

A proteção da propriedade intelectual é uma das principais barreiras contra o avanço da ilegalidade.

Cada marca registrada, cada patente concedida, cada obra protegida é um tijolo a mais na construção de um mercado mais ético e sustentável.

Combater o consumo de produtos falsificados é defender a inovação, a economia e a justiça social. E isso começa em uma escolha simples — a escolha de não compactuar com o ilegal.

*Consultor e Palestrante; Sócio-Diretor da Vilage Marcas e Patentes

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