Fonte: Folha da Região
15/10/25
Por Pedro Dartibale | da Redação
09.10.2025 20h58 |
O promotor Adriano Mellega, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), trouxe novos esclarecimentos sobre a megaoperação que investiga Franca como o epicentro de uma rede nacional de falsificação de agrotóxicos. Em entrevista ao portal GCN/Sampi, ele desmistifica a participação direta da cúpula do PCC (Primeiro Comando da Capital) no esquema, classificando o envolvimento de um integrante como um fato “pontual” e de “baixo escalão”.
A investigação, que ganhou destaque em junho com a apreensão de mais de 30 mil embalagens, revelou uma estrutura criminosa complexa e descentralizada, responsável por um prejuízo estimado em mais de R$ 30 milhões ao setor formal. No entanto, a conexão com a maior facção criminosa do país ainda era uma das principais dúvidas.
“É importante deixar bem claro: não há nenhuma informação de que o PCC, como organização sistemática, orgânica, com sua cúpula e alto escalão, esteja envolvido de maneira integrada e organizada nesse nicho criminoso de agrotóxicos”, afirmou Mellega com veemência.
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Segundo o promotor, a ligação surgiu de forma secundária, através de outra investigação, a “Operação Castelo de Areia”, uma operação realizada também pelo Gaeco, visando desarticular uma quadrilha de agiotas que atua em Franca e região. “Na análise das conversas, foi identificado que uma pessoa que é integrante do PCC, do baixo escalão, ali do ‘chão de fábrica’, vamos dizer assim, estaria envolvida com a venda de agrotóxicos ilícitos. É uma informação pontual e não sabemos exatamente qual a dimensão disso”, explicou.
Polo nacional da falsificação
Ao explicar como Franca se tornou o principal polo de falsificação de defensivos agrícolas do Brasil, o promotor afirmou que a conclusão se baseia em dois fatores principais: inteligência de dados e colaboração com a indústria.
“Isso foi concluído em contato com a própria indústria, que tem capilarização nacional e acompanha os dados, inclusive a CropLife (associação que representa o setor)”, disse Mellega. “Além disso, fazemos análises de operações e andamentos relacionados a esse tipo de criminalidade em todo o Brasil. Franca se projetou como pioneira e principal produtora. Embora não haja um documento oficial, os números demonstram essa circunstância.”
Produtos com até 600% mais princípio ativo
A entrevista também lançou luz sobre os graves riscos que os produtos falsificados representam. A composição não se trata apenas de misturas inofensivas. O promotor confirmou que os criminosos utilizam princípios ativos reais, muitos oriundos de contrabando, roubo e furto.
“Um estudo de uma associação extinta, a Sindiveg, identificou em determinados produtos falsificados um percentual de até 600% a mais de princípio ativo do que era permitido no Brasil”, revelou Mellega. “Isso representa muito prejuízo e muito risco, não só ao meio ambiente e aos consumidores dos alimentos, mas também à saúde humana de quem manuseia, aplica e utiliza isso.”
Logística criminosa: da fábrica à venda on-line
A operação do Gaeco revelou galpões com estrutura semi-industrial em Franca, com esteiras e tanques para produção em larga escala. A rede criminosa, no entanto, é mais ampla. “Os rótulos e embalagens são fabricados em locais diferentes. Operações passadas já localizaram fábricas em Franca, mas também em outras cidades”, detalhou o promotor.
Para escoar a produção, os criminosos se valem da tecnologia. “Há sim a utilização de marketplaces e plataformas digitais para que sejam divulgados os produtos”, confirmou.
Um ponto crucial é que os principais alvos são produtores rurais de boa-fé. “De uma maneira geral, os consumidores não sabem que estão adquirindo produtos falsos. Eles acabam sendo ludibriados por esse tipo de organização”, concluiu Mellega.
As investigações do Gaeco continuam para desmantelar completamente os nove núcleos identificados que atuam desde a produção até a emissão de notas fiscais frias para dar aparência de legalidade ao esquema milionário.