Fonte: O Tempo
26/11/25
Espaço coordenado pela Unifal-MG terá foco em mitigar estresses ambientais e também vai analisar resíduos de agrotóxicos
23 de novembro de 2025 | 06:00
Um projeto coordenado pela Universidade Federal de Alfenas (Unifal-MG) vai estudar formas de tratar de resíduos de agrotóxicos e rejeitos da exploração de terras raras no Sul de Minas. O Centro Multiusuário de Ciência e Tecnologias Aplicadas à Mitigação de Estresses Ambientais (CMT-AMB), localizado em Poços de Caldas, recebeu R$ 11 milhões do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Poços de Caldas abriga hoje uma das maiores reservas de terras raras do mundo e tem atraído diversos investimentos de mineradoras nos últimos anos.
No local, os pesquisadores vão avaliar a toxicidade dos rejeitos minerais e agrícolas e desenvolver novos nanomateriais e tecnologias para o tratamento de água e esgoto e descontaminação ambiental, além da criação de bioestimulantes e biofertilizantes de plantas. O foco, com o reaproveitamento dos resíduos, é reduzir os impactos ambientais da mineração e da agricultura.
De acordo com o professor da Unifal, Thiago Corrêa de Souza, coordenador científico do CMT-AMB, a universidade já conta com parcerias para obter os materiais para análise. Os agrotóxicos e pesticidas, por exemplo, são objeto de apreensão da Polícia Federal. “Isso é muito importante, porque é necessário um destino adequado desses agrotóxicos contrabandeados”, comenta. Já os elementos de terras raras são obtidos por meio de parcerias com mineradoras da região que fornecem o rejeito.
As soluções estudadas pelos pesquisadores contemplam dois eixos:
desenvolvimento de sistemas químicos e biológicos para a biodegradação de agrotóxicos – com potencial para gerar subprodutos úteis na agricultura.
reaproveitamento dos rejeitos da mineração de elementos de terras raras – com foco na recuperação de compostos de interesse, geração de produtos agrícolas e na mitigação da toxicidade
“Biodegradação é a transformação, a quebra desses agrotóxicos por micro-organismos. Após esse processo, é gerado um resíduo. Nós queremos utilizá-lo como condicionador de solo, como um produto que possa melhorá-lo, para plantar, cultivar nesse solo”, explica. “Já no segundo resíduo nós pretendemos retirar esses elementos de terras raras, esses rejeitos, e produzir novas moléculas. Essas poderão também ser utilizadas na agricultura, como bioestimulantes, condicionadores de solo, mas também como moléculas que limpam, despoluem o solo ou a água”, explica.
“O Brasil precisa de mecanismos, de formas de dar destino a esses resíduos, a esses rejeitos, então, nós vamos contribuir nesse sentido”, afirma Thiago. “Não podemos deixar de falar do potencial de gerar novos produtos para uma agricultura mais sustentável, no sentido de obtermos um desenvolvimento sustentável para o Brasil e para o Sul de Minas”, pontua.
Investimento
Conforme o professor, o recurso do MCTI auxiliará a pesquisa de três formas. A primeira é a compra de equipamentos. “São equipamentos robustos que nos ajudam a medir os elementos químicos de terras raras, os subprodutos da degradação dos agrotóxicos, seja no solo, na água ou até mesmo nas plantas”, detalha. Outra forma é a contratação de pesquisadores. “Com bolsas para pesquisadores conseguiremos ampliar os recursos humanos para trabalhar da melhor forma possível”, diz Thiago. Além disso, o recurso vai ajudar também na compra de reagentes e outros materiais de consumo.
O CMT-AMB vai receber, no total, R$ 11.355.809,87. O projeto obteve a nota 4,944, da máxima de 5 pontos, na linha de “Transição Ecológica” e dividiu o primeiro lugar, entre 224 propostas, com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo S.A., que aprovou um projeto na linha “Transformação Digital”. O projeto CMT-AMB conta hoje com a atuação de 10 pesquisadores lotados em cinco unidades acadêmicas específicas: Faculdade de Nutrição (Fanut), Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF), Instituto de Ciências Biomédicas (ICB), Instituto de Ciências da Natureza (ICN) e Instituto de Ciência e Tecnologia (ICT). A proposta contempla também colaborações com o Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (Icsa), do campus de Varginha.