Fonte: Veja
24/09/25
Esquema criminoso internacional na mira do Gaeco, grupo especial do MP em Franca (SP), inclui roubo, furto e falsificação de produtos e notas fiscais
Por Heitor Mazzoco
Atualizado em 18 set 2025, 19h16 – Publicado em 18 set 2025, 19h02
Há mais de dez anos, o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) de Franca, interior de São Paulo, investiga e denuncia esquema de falsificação de agrotóxicos a partir de uma das maiores cidades da região nordeste paulista. Ao menos cinco grandes operações desde 2014 foram realizadas na tentativa de combater o empreendimento criminoso. Nos últimos meses, no entanto, uma troca de mensagens analisadas a partir do celular de um dos alvos do Ministério Público chamou atenção porque nela havia uma discussão sobre o esquema com um integrante da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC).
“Como esse tipo de crime tem um custo-benefício favorável à criminalidade organizada, porque ele é mais difícil de combater, a gente começou a perceber que o PCC, principalmente, está em uma fase de atuação paralela”, explicou o promotor Adriano Mellega.
A atuação na falsificação de produtos agrotóxicos se intensificou durante a pandemia de Covid-19 diante da crise de insumos. Entre 2014 e este ano, as maiores operações no combate aos grupos criminosos foram Lavoura Limpa (2014), Princípio Ativo (março de 2020), QR Code (outubro de 2020), Piratas do Agro (2022) e Castelo de Areia (2024). De acordo com a investigação do Gaeco local, na última década os grupos criminosos se especializaram ainda mais na falsificação de agrotóxicos causando prejuízo bilionário ao mercado legal.
As organizações criminosas têm núcleos especializados para cada passo da atividade ilegal. Como exemplos, há um grupo apenas para falsificação de rótulos; outro responsável por galões e lacres e um outro responsável pela emissão de nota fiscal. “São pelo menos nove núcleos distintos da organização”, aponta Mellega.
De acordo com as investigações, os criminosos atuam com contrabando, roubo, furto e falsificação. “É comum, quando a gente ‘estoura’ um laboratório clandestino, ter produto oriundo de roubo ou furto, produto oriundo de contrabando. Então a falsificação em si, ela retroalimenta a máquina”, diz o promotor.
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Até o momento, a investigação aponta que os produtos contrabandeados para a produção de agrotóxicos ilegais estão vindo de três países principalmente: Paraguai, Uruguai e China, o que mostra mais uma vez a internacionalização das facções que atuam no Brasil.
Em operação de julho deste ano, autoridades públicas de Franca realizaram uma das maiores apreensões da história quando encontraram em uma chácara 30.000 embalagens que seriam utilizadas para agrotóxicos falsificados. “Em uma chácara, os agentes localizaram frascos, rótulos e tampas de produtos químicos que já estavam separados, embalados e prontos para serem vendidos ilegalmente. Houve ainda a apreensão de matrizes utilizadas para imprimir a marca nos recipientes”, disse trecho de nota divulgada pelo MP-SP à época. Entre os itens encontrados estavam 3.888 galões de dois litros, 9.339 galões de cinco litros, 4.830 galões de dez litros, 2.130 galões de vinte litros, 17.000 tampas de galão, 10.164 garrafas de um litro e uma arma de fogo. Apenas nesta apreensão, o prejuízo ao mercado legal foi estimado em 30 milhões de reais.
Diversificação
A entrada em diversas frentes econômicas do PCC não surpreende autoridades públicas. No final de agosto, a Operação Carbono Oculto, deflagrada pelo MP paulista e que chegou à Avenida Faria Lima, mostrou que a facção começou a atuar em postos de combustíveis em 2010 e desde então o número de estabelecimentos sob o seu controle saltou de doze para trezentos apenas no estado de São Paulo. “Capital, litoral, interior (…), ma é só a ponta do iceberg”, definiu na ocasião o promotor João Paulo Gabriel, do Gaeco de São José do Rio Preto.