Ao implantar,  em julho deste ano, seu Laboratório de Inovação em Produtos Naturais, em Parnaíba, no Piauí, a Phytobios, de São Paulo, levou em conta dois motivos principais. A região do Delta do Parnaíba é privilegiada pela diversidade de espécies que abriga, ao reunir três biomas, o cerrado, a caatinga e a floresta amazônica. Outro fator foi contar com pessoal qualificado dos grupos de pesquisa da Universidade Federal do Piauí.

A iniciativa é um dos componentes do  modelo que a empresa vem montando para gerar negócios com a biodiversidade. Ela atua como um laboratório de prospecção, desenvolvimento de processos e apoio para acesso ao patrimônio genético. Seu principal cliente, de quem se originou, o Grupo Centroflora, é produtor e exportador de extratos vegetais para indústrias de nutrição, cosméticos e saúde, entre outras. Mas a Phytobios  atende também terceiros, que necessitam de especialistas em produtos naturais e no trato com o arcabouço jurídico da área.   

A oferta pode começar  com a prospecção, isto é, o trabalho de campo de coleta e análise das espécies vegetais candidatas à pesquisa. Inclui a montagem de bibliotecas de extratos de plantas, analisadas com tecnologia de “ampla varredura” (high throughput screening)  para identificação de moléculas e substâncias de interesse  Outra etapa é o estudo químico ou bioquímico desses achados. O rol de serviços abrange também o desenvolvimento de processos para produção em escala do material que foi isolado em pequenas quantidades. Além disso, faz o  registro de patentes, serviços de  consultoria e redação de textos técnico científicos, com base na legislação de acesso ao patrimônio genético. 

O modelo é uma aposta na terceirização como caminho inevitável nesse mercado. Não seria viável para uma indústria de refrigerantes, por exemplo, montar estrutura semelhante para introduzir em suas bebidas novos compostos com base em insumos naturais. O mesmo vale para um fabricante de fitoterápicos ou cosméticos.  

A Phytobios nasceu em 2004, como uma joint venture do Grupo Centroflora, Natura e Orsa Florestal. “Foi uma iniciativa pioneira como modelo de negócios nos país”, observa Cristina Dislich Ropke, diretora executiva da Phytobios. 

A associação, entretanto, mostrou-se inviável na prática. No caso da Natura porque a grande fabricante de cosméticos tem como diretriz não participar de organizações que façam ensaios com animais. O Grupo Centroflora, por sua vez, dedica-se a projetos na área farmacêutica, onde a pesquisa com animais é uma exigência legal.  

Fonte: http://www.interfacecti.com.br/

Ao mesmo tempo, lembra, aquele momento viu muitos projetos de pesquisa de empresas e universidades serem interrompidos. A razão era a preocupação com os “riscos” trazidos com a medida provisória  2.186-16/2001 que impôs um rigoroso controle sobre o acesso ao patrimônio genético. Medida provisória que deverá ser substituída em breve por um novo marco legal em discussão no Congresso. Depois da saída das duas associadas, a Phytobios foi incorporada pela KTAndersen, holding que controla a Centroflora.  

Hoje, entre os ativos da empresa estão cinco patentes nas quais é cotitular, três delas divididas com a Universidade Federal do Piauí. Os alvos são cosméticos, nutrientes e também um antioxidante para óleo diesel. Cinco tecnologias para produção de cosméticos e nutrientes integram o portfólio. Para conseguir clientes a Phytobios se vale do networking, nacional e internacional,  da Centroflora.  Mas também, conta a diretora, cresce o número de fabricantes atraídos pelas informações de mercado. Um exemplo poderia ser a empresa de cosméticos em busca de uma molécula natural que atue para impedir a queda de cabelo.  

“Às vezes, a empresa define até o bioma, quer uma planta do cerrado”, nota. Um dos serviços mais requisitados são as expedições de coleta, que requerem infraestrutura adequada, da qual fazem parte profissionais como  botânico e mateiro, pessoal treinado para realizar as tarefas atendendo às normas do Ibama.  Mas o maior valor agregado está principalmente em desenvolver a concepção de um produto. Planejar formulação de um novo desodorante, ou creme, não apenas representa pontos em tecnologia como pode ser uma e de royalties através de contrato com o cliente. 

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