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Claudia Izique  |  Agência FAPESP – Pesquisadores do Aché Laboratórios Farmacêuticos e do Centro de Biologia Química de Proteínas Quinases da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) preparam o primeiro artigo a ser publicado em parceria. Eles trabalham juntos em dois projetos de investigação sobre o funcionamento de quinases – enzimas responsáveis pela regulação de diversos processos biológicos do corpo humano –, buscando moléculas que possam modelar sua função e indicar caminhos para o desenvolvimento de novas drogas.

 

A publicação do artigo será o primeiro produto da associação da empresa com o Centro, formalizada no início de 2016. “A meta é identificar um alvo biológico com potencial aplicação terapêutica”, resume Paulo Arruda, pesquisador da Unicamp responsável pelo Centro.

 

A investigação é feita em formato aberto e consorciado. O Centro integra o Structural Genomics Consortium (SGC), uma parceria público-privada que reúne mais de 400 cientistas de universidades, indústrias farmacêuticas e entidades sem fins lucrativos, envolvidos na descoberta de novos fármacos. Além da Unicamp, o SGC conta com centros em Oxford (Inglaterra), Toronto (Canadá), Carolina do Norte (Estados Unidos), Estocolmo (Suécia) e Frankfurt (Alemanha). “Os avanços obtidos no âmbito do SGC são compartilhados com a comunidade para estudo”, sublinha Arruda.

 

O SGC Unicamp foi constituído em 2015 no âmbito do Programa Pesquisa em Parceria para Inovação Tecnológica (PITE) da FAPESP. “Operamos como uma mini-indústria farmacêutica: temos equipe qualificada, alvo, infraestrutura para biologia estrutural e ensaios celulares e biblioteca de moléculas”, descreve Arruda.

 

“Já temos 60 quinases clonadas e em fase de purificação”, detalha Arruda. Esse número é significativo e as perspectivas promissoras: das 500 quinases identificadas no genoma humano, apenas 40 foram bem estudadas e já resultaram em 31 medicamentos, a maior parte deles utilizados no tratamento de câncer.

 

Recentemente, o SGC-Unicamp firmou parceria com o AC Camargo Cancer Center com o objetivo de identificar quinases candidatas a alvo. “Teremos um pós-doutorado dedicado a essa investigação e, também nesse caso, seguiremos o modelo de ciência aberta”, afirma Arruda.

 

Os centros SGC em Oxford, Frankfurt e da Carolina do Norte trabalham em parceria com o da Unicamp para desenvolver, num prazo de cinco anos, sondas químicas para 27 quinases. Sondas químicas são pequenas moléculas que se ligam com especificidade a uma determinada quinase, modulando ou silenciando sua função. São disponibilizadas pelas indústrias parceiras – entre elas a GlaxoSmithKline, Novartis, Bayer e Pfizer – e utilizadas para o entendimento da biologia de proteínas-alvo e para avaliar as consequências da inibição dessas proteínas em células e tecidos.

 

O Aché é o primeiro laboratório brasileiro a integrar o SGC. “O Aché entrega essas sondas químicas para que pesquisadores do SGC testem a modulação das quinases em diversos ensaios. Essas sondas são uma espécie de chave e o alvo biológico – as quinases, no caso –, a fechadura. Precisamos encontrar uma chave específica para cada fechadura”, diz Cristiano Guimarães, diretor da Área de Inovação Radical do laboratório farmacêutico.

 

A validação de uma “chave” é o primeiro passo para o desenvolvimento de um fármaco. Até chegar ao novo medicamento é exigida, ainda, uma série de testes pré-clínicos e clínicos em humanos para atestar sua eficácia e segurança. Esses testes, aí sim, são realizados de forma proprietária pelas indústrias. “Quando se chega a um candidato a fármaco, entra em cena um empreendedor e a molécula é apropriada”, diz Arruda.

 

“Quando Aled Edwards, CEO do SGC, e Paulo Arruda nos mostraram a oportunidade de associar a Unicamp ao SGC foi fácil ver que havia ali enorme potencial para pesquisa avançada na interface empresa-universidade e num modelo radicalmente novo de ciência aberta. Ficamos especialmente satisfeitos quando a Aché, reconhecendo os benefícios possíveis, se juntou ao grupo de empresas associadas ao Centro, demonstrando visão de futuro e estratégia inovadora”, afirmou Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP.

 

“Para a indústria, participar desse processo é importante, já que pela primeira vez ela terá acesso ao que ocorre nessa fase fundamental da pesquisa; para os pesquisadores na academia, é a chance de utilizar uma molécula em primeira mão”, completa o responsável pelo SGC-Unicamp.

 

Edwards, CEO do SGC, reconhece esse círculo virtuoso de colaboração adotado na fase pré-competitiva na relação do SGC Unicamp com o Aché. “A equipe do SGC em Campinas beneficia-se da oportunidade de trabalhar com os excelentes químicos do Aché que, por sua vez, aprendem sobre o desenvolvimento de fármacos orientado pela estrutura tridimensional da quinase. Ao final do projeto, beneficia-se também o domínio público, já que o laboratório compartilhará o conhecimento de um composto valioso, sem restrições”, ele afirma. E acrescenta: “Essa forma de parceria está disponível para qualquer empresa disposta a comprometer-se com a ciência aberta.”

 

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