O petróleo foi a tábua de salvação da economia fluminense, mas o Rio ainda arrecada menos ICMS que Minas Gerais


Graças ao impasse que a liminar do ministro do STF Luiz Fux acabou produzindo nas votações do plenário, o Congresso terá agora um tempo precioso para refletir sobre todo esse episódio, lamentável, que envolveu a disputa pelos royalties do petróleo extraído no mar. Sem querer ofender ninguém, o que se viu até agora foi um inacreditável fenômeno de asneira coletiva, pois não há um ganhador sequer. O país perde porque está sendo submetido a um vexame internacional, já que o conceito de royalty seria reinventado aqui, sem paralelo em qualquer outro lugar no planeta. Perdem os entes federativos não produtores, porque ficarão com dois passarinhos voando, em vez de um na mão, diante da possibilidade de uma briga judicial longa. Perdem os entes federativos produtores, que ficam sem um horizonte de longo prazo na organização das suas finanças. Perdem os políticos com ambições nacionais que contribuíram para acirrar os ânimos (será que o governador Eduardo Campos ou o senador Aécio Neves acreditam mesmo que poderão vencer uma eleição presidencial sendo rejeitados por um colégio eleitoral importante, como o Rio de Janeiro?). Além disso, os líderes do Congresso saíram desgastados por estimularem uma votação que seria a desmoralização do parlamento: a avaliação de três mil vetos presidenciais em um teste de múltipla escolha exporia deputados e senadores ao ridículo.


Felizmente, esse jogo que só tem perdedores, por enquanto, ainda não terminou. Vai ser difícil, pois muitos dos que deveriam atuar como bombeiros foram os que mais puseram lenha na fogueira, mas um acordo político é a saída para esse grande impasse.


O petróleo foi a tábua de salvação que tirou o Estado do Rio de Janeiro do atoleiro, porém mais por efeitos indiretos do que diretos. A economia fluminense responde pela segunda maior parcela do Produto Interno Bruto do país, mas quando se considera a arrecadação de ICMS o Estado do Rio cai para o terceiro lugar, perdendo para Minas Gerais. E a razão mais uma vez está no petróleo, de longe o segmento que mais pesa no PIB estadual. O petróleo é tributado no destino, e não na origem (o mesmo acontece apenas com a energia elétrica). Embora royalties não sejam um imposto, ajudam as finanças estaduais e municipais a reduzir essa diferença.


Sim, é possível produzir fármacos


Durante anos a indústria farmacêutica nacional viveu de copiar medicamentos dos grandes laboratórios internacionais. Os chamados similares conquistavam mercado com a chamada “empurroterapia”, pela qual o vendedor da farmácia ou da drogaria, “estimulado” a tal, acabava convencendo o consumidor a comprar esse tipo de medicamento no lugar do que havia sido indicado ou receitado pelo médico. A utilização dos genéricos mudou esse quadro, e vários laboratórios migraram para o novo ramo, com melhora substancial dos produtos.


Fora dos genéricos, restaram poucos em condições de concorrer no mercado. Uma dessas exceções é o Cristália, que se originou de um pequeno laboratório em Itapira, cidade próxima a Campinas (Estado de São Paulo), que era mais conhecida por abrigar grandes clínicas psiquiátricas com capacidade para internação de pacientes. A Cristália é uma das raras indústrias farmacêuticas nacionais que produz princípios ativos, os chamados fármacos. Atualmente, o país importa mais de 85% desses insumos. A necessidade levou a empresa a investir também em biotecnologia, e o resultado é que a Cristália tem 43 patentes registradas e reconhecidas, número superior ao que a Universidade de São Paulo (USP) detém nesse segmento, por exemplo.


O desenvolvimento tecnológico fez com que a Cristália conquistasse 50% do mercado brasileiro de anestésicos, um segmento que exige rigorosíssimo controle de qualidade. A empresa criou também uma unidade exclusiva para medicamentos oncológicos, de custo elevado, para tratamento do câncer.


O fundador da Cristália permanece como seu principal acionista. Quarenta anos atrás, a convite de um colega, o médico recém-formado Ogari de Castro Pacheco aceitou ser clínico geral de uma das clínicas psiquiátricas e se mudou para Itapira. Naquele momento começava uma longa história que culminou com a criação da Cristália, cujo complexo industrial se estende hoje por uma área de 70 alqueires , antes tomada pelo pasto. A presidente Dilma em breve vai inaugurar mais uma fábrica desse complexo.


No apagar das luzes


O TCU deu sinal verde para a contratação do consórcio que montará os equipamentos de Angra 3, que receberá financiamento da Caixa Econômica Federal para adquirir equipamentos. Feliz Natal a todos.


Fonte: O GLOBO (24 dezembro 2012)

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