Conheça as dez empresas que mais inovam no país, a partir de votos de pessoas, empresas e entidades especializadas no assunto

Por Françoise Terzian

 

AS ELEITAS

em ordem alfabética 

Cristália: Foge do trivial da química fina e se insere no mercado de fármacos de alta densidade de valor e impacto. 

Elektro: Distribuidora de energia coloca em prática o conceito de que um líder é fator essencial para os negócios. 

Embraer: No transporte civil, difundiu-se no mundo com um custo de operação competitivo; no militar, desenvolveu o KC390, para transporte de tropas e cargas, para competição global em aeronaves de combate; na aviação executiva, incorporou o design e a arte com a mesma competência que lidou com aerodinâmica. 

Granbio: Abriu a segunda geração de energia renovável. Conta com o apoio e o financiamento da Finep, a Agência Brasileira de Inovação. 

Natura: Tem seu modelo de negócios, que foi ancorado no propósito da sustentabilidade e no uso biodiversidade brasileira. 

Netshoes: Quebrou paradigmas ao ser a pioneira na venda de calçados esportivos pela internei, um modelo de negócios no qual poucas pessoas colocavam fé. 

O Boticário: Tornou o que era apenas uma bandeira em um grupo (da rede O Boticário para a holding que hoje tem outros negócios como Quem disse. Berenice?) com inovação em cornunicacão e marketing. 

As 10 economias mais inovadoras do mundo são, na ordem, Suíça, Reino Unido, Suécia, Finlândia, Holanda, Estados Unidos, Cingapura, Dina-marca, Luxemburgo e Hong Kong, aponta o The Global Innovation Index 2014, conduzido pela Johnson Cornell University, pelo INSEAD (uma das maiores escolas de negócios do mundo) e pela WIPO (World Intellec-tual Property Organization), que analisaram 143 países a partir de 81 indicadores. O Brasil ocupa a 61a posição na lista, mas cai para o 71° no cálculo de proporção de eficiência. De todos os BRICS (Brasil, Rússia, índia, China e África do Sul), a Índia, em 76° lugar, é o país que apresenta a colocação mais baixa, seguida pelo Brasil. Mais do que um ranking, o documento é um estudo que demonstra, por meio de exemplos em diversas partes do inundo, que no pós-crise a recuperação chega mais rápido quando há investimento em pesquisa e desenvolvimento. O fator humano, com desta-que para os talentos, também é destacado na última edição do estudo corno determinante para a inovação (veja a opinião de uni especia-lista sobre o tema nas próximas páginas). 

Embora a economia brasileira não esteja entre as 50 mais inovadoras do mundo, há um punhado de companhias realmente inovado-ras no país, que podem ser consideradas de classe mundial. Graças aos investimentos crescentes em pesquisa e desenvolvimento; atenção às tendências e às opiniões dos funcionários c consumidores e, claro, urna boa dose de persistência, há exemplos que de tão inovadores ganharam o mundo e hoje exportam suas criações para.dezenas de países. Para chegar a eles, FORBES Brasil buscou as fontes mais renomadas no assunto e estabeleceu alguns critérios (corno ineditismo, eficiência, ética, ruptura acompanhada de sustentabilidade financeira, ética e respeito ao meio–ambiente) para abrir a votação. 

A cada jurado foi solicitado que indicasse pelo menos três nomes de empresas inovadoras no país. Com as indicações em mãos, consolidamos os resultados e chegamos aos 10 nomes abaixo, em ordem alfabética. Vale lembrar que não se trata de um ranking, pois seria muito complicado (para não falar injusto) comparar empresas com histórias, receitas e setores tão diferentes. Os eleitos, você acompanha na lista ao lado e nas próximas páginas. Mas, afinal, o que é inovação? Em empresas, explica o especialista Daniel Domeneghetti, CEO da DOM Strategy Partners, é a capacidade sistêmica de melhorar ou modificar padrões estabelecidos. Melhorar é adequar ou incrementar. Modificar é gerar ruptura dos modelos de negócios, processos, sistemas de gestão, produtos, serviços, tecnologias, comportamentos, dentre outros?’ Seja o que for, ele explica que só é inovação o que gera (ou protege) valor à empresa, seus acionistas e clientes. “Ou seja, tern que trazer resultado no mundo real’. 

Sem Parar: Depois da passagem non-stop em pedágios de rodovias e catracas de estacionamentos de shoppings, hospitais e edifícios, a marca continua inovando e amplia seu serviços para a compra de combustível. 

WEG: É uma das poucas empresas brasileiras c= aptidão para tornar-se uma empresa sistemista aos moldes da GE, Siemens e Bosch. Trabalhou a inovação em divaw linhas de produtos complementares e solidificou uma proposta de atuação de mercado com base em segmentos de aplicação. É um centro de excelência tecnológico mundial em sua área. 

Whirpool: O que dizer da fabricante de geladeiras, fogões e máquinas de lavar que criou uma maquina que faz suco, refrigerantes, chás, cafés, frapês, energéticos e até mesmo drinks em segundos, a partir do uso de cápsulas? Essa criação que promete mudar hábitos elevou em muitos graus a imagem de inovação da companhia. 

 

DEZ + INOVAÇÃO 


Natura: INOVAÇÃO DA FLORESTA AO FRASCO 

DESENVOLVER UM COSMÉTICO NO BRASIL pode ser uma tarefa inglória se o fabricante errar no odor, na textura, na embalagem ou até mesmo ao estabelecer seu preço de venda. Dada a quantidade de concorrentes nacionais e internacionais presentes no mercado, qualquer equívoco pode gerar um encalhe do produto. Hoje em dia, no entanto, diante da presença local das maiores casas de fragrância do mundo e também dos mais variados tipos de fornecedores de matérias-primas, é difícil errar. Só que acertar a ponto de fazer sucesso, fugindo da mesmice e inovando de verdade, não é tão simples quanto parece. Na média, os produtos dispostos hoje nas prateleiras são muito parecidos. Um mal que afeta não só o setor de higiene pessoal e beleza como também o de alimentos e bebidas, de moda, automotivo, de serviços, dentre tantos outros. 

Uma das companhias mais citadas quando o tema é inovação, a Natura Cosméticos, um negócio com receita líquida de R$ 7,4 bilhões em 2014, vive uma fase de transição. Aos 45 anos, a fabricante e maior empresa de vendas diretas do país está aprimorando seu plano de voo pelas mãos do comandante Roberto Lima. (ex-Vivo, Credicard e Accor além, de ex-conselheiro da própria Natura), desde agosto no assento da presidência. “A Natura é um enorme desafio em qualquer circunstância porque é uma empresa que sempre sobe a régua. Ou seja, avança sua ambição de fazer sempre melhor.” E isso, lembra, refere-se não só a produtos, mas também à captação de matéria–prima e o impacto disso no meio ambiente e na comunidade. 

A companhia chega à maturidade no momento em que o varejo tem se sofisticado muito e o consumidor, por sua vez, se encontra cada dia mais conectado. Em tempos de mudança, ela começa a trilhar novos caminhos como a entrada com força no comércio eletrônico. Mas sem abrir mão do modelo de vendas atual. “Investimos para estreitar a relação entre clientes e consultoras. Com o uso mais intensivo de tecnologia digital, começamos a entender cada vez mais o consumidor final a ponto de vê-lo como indivíduo. Venda direta é uma venda por relações, e grande parte das relações hoje se estabelece e se mantém no mundo digital. Esse é nosso novo movimento, uma evolução no modelo da venda direta.” 

A companhia também deve, inevitavelmente, estrear no universo das lojas físicas. “É uma questão de tempo”, afirma Lima. Mas ele deixa claro que esse ambiente tem por objetivo gerar proximidade com o consumidor, de forma a oferecer experimentação dos pro-dutos e marcar presença em áreas menos exploradas. A ideia não é migrar das vendas diretas para lojas. “Não vamos tirar a força do nosso canal”, garante. Para especialistas, a Natura é hoje um dos maiores cases de inovação do país, o que a coloca muitos passos à frente de boa parte da concorrência. Eles apontam, como primeiro diferencial competitivo, os produtos que fazem uso de ingredientes diferenciados, muitos deles vegetais e provenientes da biodiversidade brasileira. Um segundo ponto é a aposta em embalagens recicláveis — um projeto que não é de hoje, mas que se intensificou de três anos para cá como a linha SOU, que defende o consumo sem desperdício. Há, ainda, um terceiro ponto bastante importante, que é o conjunto de atributos intangíveis que a Natura construiu e conquistou ao longo das últimas quatro décadas. Ativos dificilmente replicados no curto a médio prazo. “Seu modelo de distribuição é formado por consultoras que, em sua grande maioria, são aliadas da empresa. Isso resultou num verdadeiro exército de branding que oferece experiência ao consumi-dor, amostras grátis e relacionamento no formato 24×7 (24 horas por dia, sete dias por semana). Elas se apropriam dos valores da marca e rentabilizam atributos intangíveis como sustentabilidade, biodiver-sidade e modernidade”, analisa Daniel Domeneghetti, CEO da DOM Strategy Partners, consultoria especializada em estratégia corporativa e gestão de ativos intangíveis. 

Mesmo que a Natura ofereça produtos caros, observa o consultor, em geral isso não é sentido pelo consumidor, que não compra simplesmente uni sabonete vegetal de maracujá ou uma colônia de açaí. Mas todo um conceito de respeito ao meio ambiente e às comunidades locais. Lima destaca o novo ativo da linha Ekos: a ucuuba (em língua indígena, árvore da manteiga), encontrada na Ilha de Cotijuba (Pará), cujas sementes têm de alto poder de hidratação. Hoje, no entanto, a árvore corre risco de extinção dada a procura crescente por sua madeira. A ideia da Natura é manter a floresta em pé e gerar renda para a comunidade a partir do fruto da árvore. Com a matéria-prima renovável, acredita a Natura, todos saem ganhando. “Inovação é isto, buscar novos ingredientes, maneiras de produzir e lançamentos disruptivos”, acredita Lima. 

Toda essa percepção faz parte da estratégia de ampliação dos investimentos em inovação — passaram de R$ 154 milhões, em 2012, para RS 216 milhões, em 2014. Nesse período, o número de lançamentos praticamente dobrou, saltando de 104 para 239. Já o índice de inovação —percentual da receita proveniente dos produtos lançados nos últimos dois anos – subiu de 67,2% para 67,9%. Ou seja, inovar nunca foi tão vital para a receita líquida, as margens e também a imagem da companhia. Dada a importância dos lançamentos, Lima explica que o consumidor está cada vez mais presente no processo de desenvolvimento dos novos produtos, uma tendência que vem se estabelecendo de uns tempos para cá. Para tanto, a companhia elaborou o Cocriando Natura, asa rede de pessoas apaixonadas por colaboração, inovação e cocriação que unem suas ideias para o surgimento de coisas novas. 

Embraer VOANDO NOS CÉUS DO FUTURO 

NÃO FOI POR ACASO QUE A BRASILEIRA EMBRAER atingiu o posto de líder mundial na fabricação de jatos comerciais de até 130 assentos, o que a tornou uma das maiores exportadoras do país. Cerca de 900 aviões da família ERJ 145 de jatos regionais, de 37, 44 e 50 assentos, foram entregues a companhias aéreas desde sua introdução no mercado, em 1996. Já a família de E-Jets inclui quatro aeronaves que têm entre 70 e 130 assentos e uma engenharia com alto grau de eficiência, além de cabines ergonômicas e espaçosas (com dois assentos por fileira). Os modelos E170, E175, E190 e E195 estabeleceram um novo padrão na categoria. Desde que essa família de aeronaves entrou em serviço, em 2004, a Embraer recebeu mais de 1.500 pedidos firmes com mais de 1100 E-Jets já entregues. 

Com sede em São José dos Campos (SP), a companhia mantém escritórios, instalações industriais e oficinas de serviços ao cliente no Brasil, China, Estados Unidos, França, Portugal e Cingapura. Fundada em 1969, a Embraer projeta, desenvolve, fabrica e vende aeronaves e sistemas para os segmentos de aviação comercial, aviação executiva e defesa e segurança. Para continuar expandindo, ela tem no foco em inovação um de seus grandes trunfos. No ano passado, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) aprovou financiamento no valor de R$ 1,4 bilhão para a companhia realizar investimentos em inovação tecnológica. 

O projeto promete trazer benefícios relacionados a reduções no consumo de combustível, nas emissões de gases, no nível de ruído e no custo de manutenção das aeronaves fabricadas pela empresa. O aporte será usado até 2018 e abrange o desenvolvimento do Legacy 500, aeronave executiva de médio porte que acaba de ser vendida para a Middle East Air-lines (linha aérea do Líbano), e da segunda geração da família de jatos comerciais E-Jets, com 30 unidades já encomendadas pela Azul, podendo chegar a 50. 

 

GranBio: ETANOL DE SEGUNDA GERAÇÃO 

A GRANBIO NASCEU EM 2011, em uma conversa na cafeteria da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) entre Bernardo Gradin (presidente), Gonçalo Pereira (cientista-chefe) e Alan Hiltner (vice-presidente executivo). O trio sonhava em realizar um projeto de alto impacto para o planeta, a partir da união da biotecnologia e da biomassa brasileira. “Seria urna nova revolução industrial, baseada em um novo paradigma de produção, com profundo impacto para a sociedade e o meio ambiente. A ideia transformou-se em um plano de negócios, resultando na fundação da GranBio cinco meses depois”, recorda Gradin. 

Em 2013, a BNDESPar, braço de investimentos do banco, aportou R$ 600 milhões na GranBio para a aquisição de 15% de seu capital. Em setembro, a companhia deu início à produção do etanol celulósico (ou de segunda geração — 2G) na fábrica localizada em São Miguel dos Campos (AL). O projeto, considerado pioneiro no Hemisfério Sul, destaca-se por cuidar da matéria-prima à distribuição do produto final, integrando tecnologias próprias e de parceiros no que Gradin chama de “o ciclo industrial mais sustentável do mundo.” 

Com capacidade de produção nominal de 82 Milhões de litros de etanol por ano, a unidade utiliza palha de cana-de-açúcar (mas também pode ser o bagaço) como matéria-prima para a fabricação do combustível. “Assim, pode-se aumentar a capacidade de produção do biocombustível no país em até 50% por hectare, sem a necessidade de ampliação dos canaviais.  No futuro, iremos utilizar a cana-energia, mais produtiva e resistente, que pode ser plantada em áreas degradadas de pasto. O que reduzirá ainda mais a pegada de carbono do processo produ-tivo”, promete Gradin. 

Quando atingir a plena capacidade produtiva, a expectativa é alcançar um custo de produção 20% mais baixo que o etanol de primeira gera-ção, o que torna os projetos de 2G financeira-mente sustentáveis e atraentes. Hoje, o empre-sário garante que o etanol 2G da GranBio é o combustível produzido em escala comercial mais limpo do mundo em intensidade de carbono —índice comprovado pelo Air Resources Board (ARB), da Califórnia. Sua expectativa é tornar a empresa lucrativa a partir de 2017. 

Cristália – Da molécula ao produto final

NOS ANOS 70, UM GRUPO DE MÉDICOS fundou urna clínica de psiquiatria em Itapira, interior de São Paulo. Para suprir as necessidades com medicamentos, eles decidiram criar um laboratório. Com uma capacidade produtiva superior à demanda interna, passaram a vender o excedente. Foi assim que nasceu o Cristália. Referência em inovação e tecnologia, hoje possui 76 patentes e é o único laboratório brasileiro que produz 50% de seus insumos. Ele também é considerado o pioneiro nacional em realizar a cadeia completa de um medicamento, desde a concepção da molécula até o produto final. 

Com vocação inicial para a psiquiatria, o Cristália, de olho no segmento hospitalar que pedia cada vez mais anestésicos e que só era atendido por multinacionais, resolveu investir nesse nicho. Hoje, atende mais de 4 mil hospitais e é considerado o maior produtor de anestesia de toda América Latina. Ele fabrica os quatro anestésicos inalatórios (anestesia geral) mais consumidos no mundo, assim como os três principais anestésicos de bloqueio (anestesia local). 

Seu medicamento mais vendido é o anestésico Xylestesin, que teve mais de 18 milhões de unidades vendidas nos últimos 12 meses. O tália, vale lembrar, continua atuando forte na psiquiatria, no segmento de dor, HIV/Aids, em produtos biológicos e dermatologia terapêutica e estética. Somando tudo, seu faturamento em 2014 foi de R$ 1,6 bilhão. 

O laboratório ainda exporta seus princípios ati-vos e produtos acabados para mais de 30 países. “O Cristália busca novas moléculas, com ações e resultados. Chama também a atenção o fato de ele articular o grupo de farmacêuticas nacionais para P&D (pesquisa & desenvolvimento). Eles atuam em uma área difícil, mas estão tendo sucesso”, afirma uma fonte que, por questões de concorrência, prefere não se identificar. 

Outro especialista diz que o Cristália é a única empresa brasileira de fármacos que soube utilizar com sabedoria e plenitude os recursos oferecidos pela política de insumos estratégicos do Ministério da Saúde (que buscava criar contratipos nacionais) para gerar novas moléculas com escala e aplicação competitiva global. 

cristalia

O Boticário: COSMÉTICOS SEM PRECONCEITO 

RECENTEMENTE, AO VEICULAR A PROPA-GANDA de Dia dos Namorados na tevê (e também no YouTube), a rede de lojas O Boticário tornou-se um dos assuntos mais comentados e polêmicos das últimas semanas. Ao divulgar a edição limitada de fragrâncias unissex Egeo 7 Tentações, a marca levou ao público uma propaganda com casais heterossexuais e homossexuais trocando presentes. A iniciativa gerou um enorme barulho nas redes sociais e foi parar no Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária). 

Embora essa não tenha sido a primeira propaganda brasileira a tratar da diversidade —marcas como Gol e Sonho de Valsa fizeram isso antes —, a atitude demonstra uma sensibilidade rara para lidar com o público nos novos tempos. Esse, no entanto, não foi o único motivo para O Boticário receber votos e entrar na lista das dez empresas mais inovadoras do Brasil. 

A forma como o modelo de negócios criado por Miguel Krigsner e hoje presidido pelo sócio Artur Grynbaum cresceu, estruturou-se e diversificou-se chama a atenção. A estratégia de capilaridade, com a abertura de cerca de 3,9 mil pontos de vendas espalhados por mais de 1,7 mil municípios de todo o território nacional, transformou O Boticário na maior rede de franquias do Brasil. Daniel Domeneghetti, especialista em estratégia corporativa e CEO da consultoria DOM Strategy Partners, aponta ainda a transformação de pontos físicos em pontos de transação, relacionamento, experiência e audiência. “Hoje, nesses espaços, a empresa consegue alinhar sua proposta de valor e comunicação de uma forma única no mercado”, observa. A estratégia multicanal e também a expansão multimarca foram consideradas inovadoras. Com a criação do Grupo Boticário há alguns anos, o que era apenas uma rede de lojas avançou para outras marcas corno Eudora (de vendas diretas), Quem Disse, Berenice? (de maquiagem) e The Beauty Box (que hoje vende desde Granado até perfumes importa-dos da Ralph Lauren). 

Elektro: DRONE PARA INSPEÇÃO 

A MAIORIA DOS BRASILEIROS NUNCA OUVIU FALAR da Elektro, a oitava maior distribuidora de energia elétrica do país em MWh (mega-watt- hora) fornecido e a terceira do estado de São Paulo, com atendi-mento a 228 municípios de São Paulo e Mato Grosso do Sul, totalizando 2,4 milhões de clientes e mais de 6 milhões pessoas atendidas. É de sua sede corporativa em Campinas (SP) que surgem ideias como a do uso de um drone, veículo aéreo não tripulado. para obter imagens da rede de distribuição de energia. Por meio de um software inteligente, o drone emite um relatório que aponta os locais para manutenção. Esse dispositivo, desenvolvido por engenheiros da Elektro em parceria com outras empresas, ainda é um protótipo e deverá ser colocado em uso para inspeção das redes elétricas neste ano. 

De capital aberto, a companhia pertence ao grupo espanhol Iberdrola, quinto maior de energia elétrica no mundo. No ano passado, ela ocupou a 22a posição no ranking das 50 empresas que mais produziram valor no Brasil, conduzido pela consultoria nacional DOM Strategy Partners, focada em estratégia corporativa. 

A Elektro também chamou a atenção da consultoria em inovação Mandalah, por conta do estilo de liderança de seu CEO, Marcio Fernandes, e do modelo de gestão focado em pessoas. “A empresa é constantemente premiada como a melhor para se trabalhar no Brasil. Pudemos testemunhar a relação entre as pessoas, das pessoas com o Marcio e do ambiente de trabalho como um todo. É algo que realmente chama a atenção. Do ponto de vista dos clientes, a Elektro apre-senta uma taxa de satisfação de mais de 95%, uma das maiores do mundo”, observa Victor Hugo Cremasco, da área de relações institucionais da Mandalah. A distribuidora de energia também tem apre-sentado desempenho satisfatório, com taxas constantes de crescimento, mesmo em tempos de dificuldades para o setor elétrico brasileiro. “Inovação é lucro mais propósito. A empresa dá retorno para os acionistas, cresce, impressiona e, ao mesmo tempo, compartilha valor com as pessoas e o planeta. Tudo prospera. Parece que sempre precisa haver um trade off, mas não. Ainda existe equação perfeita. É só querer fazer acontecer”, ensina Cremasco. 

WEG A SAÍDA É A ENERGIA SOLAR 

EM 1961, UM ELETRICISTA, um administrador de empresas e um mecânico fundaram, em Jaraguá do Sul (SC), a Eletromotores Jara-guá. Anos mais tarde, o negócio criado por Werner Ricardo Voigt, Eggon João da Silva e Geraldo Werninghaus ganhou uma nova razão social, a Eletromotores WEG SA — junção das iniciais dos três fundadores. Considerada uma das maiores fabricantes de equipamentos elétricos do mundo, a WEG afta nas áreas de comando e proteção, variação de velocidade, automação de processos industriais, geração e distribuição de energia e tintas e vernizes industriais. 

Embora sua sede e principais unidades industhais fiquem na pequena Jaraguá do Sul, com cerca de 140 mil habitantes, a WEG tem fábricas espalhadas por São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Amazonas e também na Argentina, México, Estados Unidos, Áustria, Portugal, África do Sul, China e Índia, além de instalações de distribuição e comercialização em países como Estados Unidos, Venezuela e Emirados Árabes Unidos. 

É nessa empresa com receita líquida de quase R$ 8 bilhões e pouco mais de 30 mil funcionários que a atual discussão em torno da geração de energia elétrica ganha contornos de inovação. De acordo com a ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica), cerca de 84% de toda energia do país é produzida por hidrelétricas. Em períodos de seca, as térmicas emergenciais são acionadas e a conta do consumidor fica mais cara. Por causa dessas adversidades, a geração de energia solar (por meio de sistema fotovoltaico — aqueles que, quando expostos à luz, produzem eletricidade) ganha impulso no Brasil e apresenta um futuro bastante promissor para consumi-dores residenciais e para a indústria. 

Desde 2012, a WEG desenvolve soluções para Energia Solar, o que está sendo demonstrado na Casa Cor Santa Catarina 2015, em Itajaí. A companhia instalou um sistema de geração solar fotovoltaico, na qual a luz do sol é convertida em eletricidade para residências, comércio e indústria. A tecnologia WEG vai gerar cerca de 400 kWh/ mês para um dos projetos apresentados na mostra de arquitetura, decoração e paisagismo. Esse número é sufi-ciente para abastecer uma casa de médio porte. Os visitantes ainda poderão acompanhar a geração de energia em tempo real por meio do sistema de monitoramento. A WEG é uma das pioneiras no Brasil no fornecimento de sistemas integrados de geração de energia solar. 

Netshoes COM OS DOIS PÉS NO E-COMMERCE 

EM 2000, OS PRIMOS DESCENDENTES DE ARMÊ-NIOS Mareio Ktunruian e Hagop Chabab abriram uma loja de sapatos na Rua Maria Antônia, a poucos passos da Universidade Mackenzie (SP). Dois anos depois, eles resolveram investir no comércio eletrônico. No primeiro mês, não venderam um único par de calçados. No segundo, idem. No terceiro, venderam um par. Já no quarto, dois. De repente, sem o mercado perceber, a Netshoes transformou-se em um fenômeno do e-com-merca Quando sua presença foi sentida, ela já era grande demais. Hoje, o negócio que tem vários investidores inter-nacionais como o GIC (fundo soberano de Cingapura) e o International Finance Corporation (membro do Grupo Banco Mundial), é o maior comércio eletrônico de artigos esportivos do mundo, segundo o Internet Retailer. 

Com atuação no Brasil, na Argentina e no México, a Netshoes tem mais de 2 mil colaboradores e cerca de 40 mil artigos esportivos provenientes de 300 marcas, além de cerca de uma dezena de lojas oficiais de clubes — do Corinthians ao argentino River Plate. Por mês, são 30 milhões de visitantes únicos e cerca de 25 mil reviews de produtos escritas pelos clientes. Seu lema é inspirar e transformar a vida das pessoas com mais esporte e lazer. 

No ano passado, a receita líquida foi de R$ 1,2 bilhão, cerca de 20% a mais em relação a 2013. Pela primeira vez em sua história, a companhia registrou fluxo de caixa positivo. Agora, ao completar 15 anos, seu primeiro funcionário dentre mais de 2 mil, protagonizou um comercial na tevê e nas redes sociais. Além de costumeiramente dizer que a Netshoes cresceu com a ajuda de muito planejamento e pouco sono — Kumruian passou inúmeras noites acordado até as 3h —, a empresa transformou-se em um modelo de ino-vação. “A Netshoes tem como sua maior e pior desvantagem o fato de ser pioneira. Ela inovou, cresceu e se adaptou melhor que todos os outros sites, pois foi a primeiro a vender apenas calçados esportivos via internet. Com o passar do tempo, o mix de produtos foi crescendo e ela começou a vender camisetas de futebol e, em cinco anos, passou a ofe-recer tudo relacionado a esportes”, analisa Douglas Carvalho Jr., sócio-diretor da Target Advisor, buti-que de fusões e aquisições. 

Já seu maior competidor, aponta Carvalho Jr., é a loja física Decathlon, dado o portfólio de produtos. Ela também migrou para o universo on-line. Mesmo assim, dado o tempo de existência e o tamanho da Netshoes, o consultor diz que ela continua pratica-mente sozinha no segmento de esportes no Brasil. 

Whirlpool ELETRODOMÉSTICO QUE FAZ DRINQUES E REFRIGERANTES 

TEM COMO UMA FABRICANTE DE GELADEIRAS, fogões e lava-roupas ser inovadora? Todos esses equipamentos de uso doméstico são iguais desde sempre, certo? A Whirlpool, detentora de marcas como Bras-temp, Consul, KitchenAid e Jenn-Air, garante que não. Uma entusiasta da inovação, a gigante sediada nos Estalos Unidos reserva parte do seu faturamento anual (US$ 20 bilhões em 2014) para pesquisa & desenvolvimento de seus processos produtivos e, principalmente, produtos. No Brasil, a fabricante garante ser a companhia privada com o maior número de patentes no INPI (Instituto Nacional da Propriedade Indus-trial), com mais de 680 depósitos desde 1962, e com média de 70 depósitos/ano nos últimos três anos. Ela também afirma ser a única empresa brasileira a figurar entre as 500 maiores depositantes de patentes no mundo por meio do PCT (Patent Cooperation Treaty). 

Além dos vários pequenos recursos adiciona-dos a refrigeradores, fogões e máquinas de lavar, a última grande inovação da companhia chama- se Brastemp B.blend, a primeira plataforma de bebi-das em cápsulas all-in-one do mundo. Com ela, é possível preparar bebidas quentes ou geladas, com ou sem gás, como sucos, néctares, refrigerantes (guaraná Antártica, por exemplo), ice teas, chás, chocolates, cafés, frapês e até mesmo energéticos sem sódio e drinques como margarita e cosmopolitan. 

Sem sair de casa, é possível elaborar na hora dez tipos de bebidas de mais de 20 sabores. Basta inserir a cápsula e apertar o botão que a tecnologia identifica automaticamente a bebida para o preparo. É, inquestionavelmente, urna das prin-cipais inovações do mercado de eletrodomésticos das últimas décadas. A máquina B.blend custa 12$ 3.499 e as cápsulas saem de R$ 1,49 (chás) a R$ 4,49 (energético). Por enquanto, a venda e a instalação é exclusiva para o estado de São Paulo e a cidade catarinense de Joinville. 

Vale explicar aos curiosos que a máquina já vem com um filtro de água. A troca é recomendada após seis meses de uso ou o consumo de 1.000 litros de água (aproximadamente 5 mil copos) e custa R$ 89,90. 

SEM PARAR RFID CONTRA A LENTIDÃO 

É DIFÍCIL ENCONTRAR UM MOTORISTA que nunca tenha ouvido falar do Sem Parar, sistema pioneiro em pagamento automático de pedágios e estacionamentos no Brasil. Ele iniciou sua atuação em 2000 e, desde então, lidera esse mercado. Por meio de um dispositivo de identificação (TAG) fixado no para-brisa do veículo, a catraca é liberada automaticamente. Atualmente, 4,9 milhões de clientes utilizem o serviço em praticamente todas as rodovias pedagiadas brasileiras, com mais de duas mil pistas em operação, além de 235 estacionamentos de shoppings, aeroportos, hospitais, universidades e centros comerciais de 12 estados (como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Mato Grosso, Rio Grande do Sul, Bahia e Pernambuco). 

Nos últimos tempos, com o avanço da tecnologia e da popularização dos smartphones e dos respectivos aplicativos móveis, a Sem Parar evoluiu e passou a oferecer novos recursos e serviços. Um deles é a possibilidade de usar a TAG do veículo para abastecer em 500 postos da combustível da rede Shell do estado de São Paulo. 

Ou seja, não é preciso descer do carro, entregar o cartão ou digitar a senha. É só abastecer e sair. Uma antena instalada na cobertura do posto de serviços identifica a tag do motorista, que deve apenas informar ao vendedor o tipo e a quantidade de combustível desejado. A partir daí, todo o processo de pagamento é realizado automaticamente. A cobrança do combustível vem na fatura do Sem Parar. 

Outra inovação recente é o Sem Parar Táxi, que per-mite localizar o taxista mais próximo entre os 10 mil motoristas credenciados na cidade de São Paulo e pagar o valor da corrida de forma automática, no próprio aplicativo instalado no celular, sem uso de dinheiro nem cartão. O valor é debitado automaticamente na fatura mensal, identificado com o nome do motorista e a placa do veículo. A transação é feita dentro da plataforma do Sem Parar. Com o controle acionário nas mãos de companhias como a Arte-ris, o Grupo CCR e a Raízen (em 2013, ela pagou R$ 250 milhões por 10% do negócio), a Sem Parar tem sede em Osasco (SP), 2,2 mil funcionários e é uma das empresas mais promissoras do país. 

Matéria no site original 

Anterior

Departamento de Marcas e Patentes da EMS é reconhecido internacionalmente!

Próxima

O 3rd International Symposium on Challenges and New Technologies in Drug Discovery & Pharmaceutical Production