Simpósio de Bio-Manguinhos discute cenário para inovação tecnológica em vacinas

Os desafios tecnológicos em vacinas não se limitam apenas à descoberta de novos imunizantes, mas também compreendem facilitar o acesso de países e populações mais pobres. Essa foi uma das conclusões do II Simpósio Internacional de Imunobiológicos, promovido pelo Instituto de Tecnologia de Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz), em comemoração aos seus 35 anos. O evento, que discutiu o panorama atual da produção e distribuição de vacinas, biofármacos e reativos para diagnósticos, reuniu especialistas brasileiros e estrangeiros, no Rio de Janeiro, entre os dias 4 e 6 de maio.

O evento contou com a presença dos dirigentes da ABIFINA Nelson Brasil de Oliveira, 1º vice-presidente; Marcos Oliveira, vice-presidente de Planejamento; e Telma Salles, diretora de Relações Institucionais.

O simpósio marcou também o lançamento de um novo teste de HIV, desenvolvido por Bio-Manguinhos, mais barato e mais rápido. De acordo com Artur Roberto Couto, diretor do instituto, o teste rápido confirmatório Dual Path Platform (DPP®) HIV-1/2 tem custo cinco vezes menor e dispensa infraestrutura laboratorial, o que agiliza o processo. O teste, que estará disponível a partir do 2º semestre, é feito por meio de uma picada no dedo do paciente e libera o resultado em apenas 20 minutos.

Durante simpósio, foi apresentado um quadro histórico da evolução das vacinas e as perspectivas para o futuro. Para o médico brasileiro Ciro de Quadros, diretor-executivo do Instituto de Vacinas Albert Sabin, entidade com sede em Washington D.C., o século XXI será o século das vacinas. Segundo ele, deverão surgir alternativas inovadoras contra Aids, malária, câncer e outras doenças. “Temos bons exemplos da importância das vacinas, como a erradicação da varíola no mundo e do sarampo, da rubéola e da pólio nas Américas, mas ainda há muitas doenças infecciosas que poderia ser prevenidas por meio da vacinação”, afirma.

Para ele, há uma grande diferença entre o número de vacinas usadas em países pobres e nos desenvolvidos, e que é preciso fortalecer a infraestrutura de saúde das nações em desenvolvimento. “As vacinas tem um valor inestimável. Cada um ano aumentado na expectativa de vida de um país, aumenta-se 4% da produtividade”, explica Quadros. “Mas com o desenvolvimento de novas tecnologias, novas abordagens, os imunobiológicos estão cada vez mais caros. É preciso criar mecanismos internacionais de financiamento para os países pobres e apoiar a produção nos países emergentes”.

Para Debra Kristensen, da Path, ONG internacional que trabalha em prol do desenvolvimento de novas tecnologias para saúde e combate a epidemias, ainda há outras questões em jogo. “Nossa estratégia é apoiar o desenvolvimento de um ambiente de inovação. Precisamos buscar vacinas mais fáceis de preparar e manusear, que minimizem possibilidades de erros, com menor volume para estocar e transportar e melhor termoestabilidade. Além disso, há o problema do impacto ambiental da produção, que gera uma grande quantidade de lixo. É necessário inovar também em materiais que reduzam esse impacto.”

Ambiente de inovação no País

Iniciativas no Brasil para apoiar a P&D no setor também foram apontadas durante o simpósio. Carlos Gadelha, secretário de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde, apresentou ações governamentais para estimular a inovação no setor, como as compras públicas e as parcerias público-privadas.

“As PPPs são um incentivo à formação de redes de inovação, tendo o Governo como agente do desenvolvimento de tecnologias de que ele precisa. A ideia é trazermos ao Brasil multinacionais que investem em P&D para associarem-se a instituições públicas e empresas nacionais”, afirma Gadelha. “Já as compras estatais são um recurso pouco usado entre os emergentes. Para os próximos anos, pretendemos revisar periodicamente as listas de produtos prioritários, o que poderá abrir novas fronteiras aos que investem em inovação”.

O secretário de Vigilância em Saúde, Jarbas Barbosa, que representou o ministro da Saúde Alexandre Padilha, reiterou a importância de garantir a soberania na produção de vacinas. “Hoje, Brasil e Cuba são os dois maiores produtores de imunobiológicos da América Latina, mas ainda enfrentamos um grande déficit na área de saúde”, afirmou. “O País não pode estar vulnerável, pois as vacinas têm um forte impacto social”.

De acordo com Barbosa, o Brasil conta com vários fatores favoráveis à reversão desse quadro, como parques tecnológicos consolidados para o desenvolvimento de tecnologias e produtos; um sistema de saúde universalizado, com compras centralizadas, o que facilita a negociação; e o apoio social e político em torno das vacinas. “O ministério tem orgulho de poder contar com uma entidade como Bio-Manguinhos para fortalecer nossa cadeia produtiva”, disse. 

 

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