Webinar da ABIFINA destaca avanços científicos, casos empresariais e oportunidades de fomento para transformar a riqueza natural do País em tecnologias
O webinar “Patentes de medicamentos com ativos da biodiversidade”, promovido pela ABIFINA no dia 04 de novembro, mostrou que os atores do ecossistema de inovação nacional estão cada vez mais atuantes em pesquisa e desenvolvimento de produtos com insumos da natureza brasileira. O tema está na agenda das indústrias, instituições de pesquisa, órgãos de fomento e formuladores de políticas públicas, como se pôde observar ao longo do evento.
A programação começou com a apresentação de iniciativas da ABIFINA para incentivar o crescimento sustentável da cadeia produtiva da biodiversidade. A consultora Ana Claudia Oliveira, especialista em Propriedade Intelectual, Inovação e Biodiversidade, expôs dados reunidos pela entidade sobre a proteção da propriedade intelectual na área.
A partir da base de dados Monitoramento de Pedidos de Patentes da Biodiversidade (MPP Bio), da ABIFINA, a pesquisadora identificou 1,6 mil patentes relacionadas a 1,3 mil espécies para 400 indicações terapêuticas. Estão contempladas patentes depositadas no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).
A maioria dos pedidos é de depositantes nacionais — especialmente universidades — e de insumos vegetais, sendo o mais recorrente a cannabis, mercado em ascensão no mundo. Quanto ao escopo de proteção, predominam os pedidos de formulações farmacêuticas.
Os dados podem ser visualizados em um painel interativo exclusivo para associados da ABIFINA, que foi incluído no catálogo da Confederação Nacional da Indústria (CNI) para a COP 30, como uma das iniciativas estratégicas para a bioeconomia.
“Essas patentes, mesmo que estejam arquivadas ou indeferidas, contêm informações muito valiosas, pois indicam o caminho já percorrido por pesquisadores. Para as empresas, permitem monitorar a concorrência, analisar tendências e encontrar novas rotas tecnológicas. Para o governo, facilitam a tomada de decisões sobre políticas públicas”, explicou Oliveira.
A ABIFINA vem estabelecendo acordos de cooperação técnica com o governo para disponibilizar esses e outros dados, visando fortalecer a cadeia produtiva. O presidente executivo da entidade, Andrey Freitas, ressaltou o diferencial dos resultados entregues:
“O mérito dos estudos da ABIFINA é sistematizar, em uma única base, as informações disponíveis em diversas fontes e facilitar o acesso para usos bem definidos, como em políticas públicas, estratégias empresariais e pesquisas acadêmicas”, afirmou.
Inovação brasileira
Após a apresentação da ABIFINA, foi realizado um debate sobre a pesquisa nacional. O potencial das universidades foi abordado no relato da experiência acadêmica de Renata Pinho Morais, farmacêutica e doutora em Engenharia e Ciências de Materiais. Em sua tese, ela investigou a redução de pelos com o uso de barbatimão e encontrou uma forma de encapsulamento do extrato que aumenta a absorção dos ativos com menor toxicidade. Segundo a pesquisadora, a patente resultante desse trabalho está disponível para licenciamento.
Para compartilhar experiências do setor empresarial, foi convidado o doutor em Biologia Celular e Molecular German Wassermann, diretor adjunto de P&D em Biotecnologia do Laboratório Cristália. Sua apresentação focou no desafio de verticalizar a fabricação do Kollagenase, um produto tradicional da companhia que corria o risco de ser descontinuado pela redução mundial da oferta do insumo.
Foi assim que o Cristália iniciou um projeto de bioprospecção que resultou no isolamento de uma cepa da bactéria Clostridium histolyticum e no desenvolvimento de uma rota biotecnológica própria. O caso se tornou um importante exemplo de inovação nacional a partir da biodiversidade. A tecnologia obteve patente no Brasil, Estados Unidos e Europa. Outras inovações vieram na esteira, como a construção de uma planta de biossegurança nível 3, que requer conhecimentos altamente especializados.
Fomento a projetos
Adriana Batalha, da Diretoria de Inovação da Finep, traçou o panorama do financiamento às pesquisas com biodiversidade oferecido pela agência. Destacaram-se as chamadas públicas Mais Inovação ICT e Mais Inovação Saúde Empresa, ambas com diversos projetos que utilizam a biodiversidade brasileira para o desenvolvimento dos chamados “IFAs verdes”.
“Temos projetos selecionados que mantêm relação direta ou indireta com a valorização e o uso sustentável da biodiversidade. A visão não se limita à conservação passiva, mas ao uso da biodiversidade como base para a cadeia produtiva de bioinsumos, cosméticos, fármacos, alimentos, novos materiais e muitos outros”, detalhou Batalha.
A importância foi tamanha que, no caso do Mais Inovação ICT, a oferta original de recursos — de R$ 250 milhões — recebeu demanda de R$ 2,5 bilhões. A Finep conseguiu complementação de recursos, alcançando R$ 693 milhões para 51 iniciativas. “Todos os projetos que tiveram mérito reconhecido foram contemplados”, garantiu.
Por fim, a representante da Finep falou sobre a chamada de propriedade intelectual, cujo objetivo foi transformar patentes de universidades em produtos desenvolvidos por empresas. Segundo ela, em breve será publicada uma nova chamada, com recursos da ordem de R$ 300 milhões.
Ao mencionar iniciativas brasileiras que dão certo, Batalha enfatizou a Plataforma InovafitoBrasil, que oferece um roteiro para projetos de medicamentos fitoterápicos, baseado nas exigências regulatórias locais e nos Níveis de Maturidade Tecnológica (TRLs, na sigla em inglês) usados internacionalmente.
Moderadora dos debates, Tatiana Ribeiro, diretora de Biodiversidade e Sustentabilidade da ABIFINA, concordou com Adriana Batalha sobre a importância da iniciativa. Ela destacou que a plataforma é uma ferramenta que ajuda a compreender a maturidade de projetos de fitoterápicos, sendo essa uma informação analisada por várias agências de fomento nos processos de seleção.
Transmitido ao vivo pelo Zoom, o evento atraiu mais de 140 participantes, entre representantes de empresas, instituições de pesquisa e órgãos públicos, refletindo o interesse crescente do setor pelo tema. A gravação completa está disponível no canal da ABIFINA no YouTube, ampliando o alcance das discussões e reafirmando o compromisso da entidade em promover o diálogo entre ciência, indústria e governo em prol do desenvolvimento sustentável da biodiversidade brasileira.
