Para especialistas, indústria e universidade podem se beneficiar mutuamente de parcerias e gerar mais oportunidades de inovação

Um dos maiores desafios para a inovação no Brasil é a baixa interação entre academia e setor industrial. Essa foi a principal mensagem dos participantes do painel “Desafios da propriedade intelectual em inovações incrementais”, que abriu a programação da tarde do Seminário Internacional Patentes, Inovação e Desenvolvimento – X SIPID, evento realizado no dia 4 de dezembro no Rio de Janeiro. Núbia Gabriela Chedid, chefe da Divisão de Patentes de Farmácia II do INPI, foi a expositora do painel, trazendo definições de inovação e dados sobre o crescimento da produção científica brasileira e a relação com a indústria.

Levantamento realizado por Núbia Chedid indica que o Brasil vem registrando crescimento do número de produção científica nacional na última década, tanto em termos de publicação, como de citações e mesmo colaborações internacionais. Entretanto, apontou a especialista, há pouca interação entre academia com a indústria para realização de pesquisas. Segundo ela, apenas 1% dos artigos publicados entre 2011 e 2016 foi resultado de parceria entre pesquisadores universitários brasileiros e indústria nacional. E, quando há colaboração com indústria, esta acontece com farmacêuticas multinacionais. Isso é um desafio para a inovação no país, alertou.

Outro dado preocupante, segundo a representante do INPI, é o baixo número de pedidos de patentes de inventores nacionais, o que dificulta a possibilidade de exportação de tecnologia brasileira. “O Brasil contribui com 0,3% dos depósitos de patentes no mundo. A China é o país que mais deposita patentes, depois os EUA. E o país que mais deposita fora do próprio território são os EUA, depois Japão, Alemanha, Coreia do Sul e a China em quinto. O Brasil nem aparece entre os dez. Precisamos avançar muito no depósito nacional para que algum momento a gente consiga exportar”, argumentou.

Para ela, é importante incentivar as universidades a depositarem patentes. “Temos poucos pedidos, temos que avançar muito nisso”, defendeu. Na sua visão, também é necessário estimular uma aproximação com o setor industrial. “Não há uma associação da indústria com as universidades. Está faltando a ligação do inventor com o empreendedor”, alertou. Núbia acredita ainda que o escritório nacional de patentes poderia contribuir nessa aproximação. “O INPI deveria ir na universidade, falar com o inventor nacional, aumentar possibilidade de a academia desenvolver produto no mercado, que gere inovação. Um dos desafios do INPI é participar nesse sistema nacional de inovação”, concluiu.

Acesse aqui a apresentação feita por Núbia Chedid.

A apresentação inicial deu o tom para o debate realizado na sequência. Coordenando a mesa, a consultora de Propriedade Intelectual & Inovação da ABIFINA, Ana Claudia Oliveira, concordou com a representante do INPI e acrescentou que “o desafio é achar invenções e transformar em inovações”. Na sequência, Ana Cepeda, gerente de Marcas e Patentes da EMS, lembrou sua experiência recente ministrando aulas sobre propriedade intelectual em universidades e afirmou que, apesar de haver uma carência desse debate no ambiente acadêmico, o interesse por invenções e patentes tem aumentado. O desafio é saber quem se responsabiliza por dar esse pontapé. “Existem projetos incríveis. Quem vai pegar e transformar num produto? De quem é essa obrigação, da indústria? De politica publica incentivando essa associação? Isso não tem”, questionou.

Para João Paulo Pieroni, chefe do Departamento Complexo Industrial e Serviços de Saúde do BNDES, o distanciamento entre indústria e universidade no Brasil se deve a uma falta de sintonia entre interesses, além da prática de se internalizar a pesquisa nas empresas. “O conhecimento para que seja feita inovação incremental está mais in house, é um conhecimento detido pelas empresas. Ao mesmo tempo, o que a universidade busca são inovações radicais, são novos medicamentos e moléculas. As empresas têm que evoluir para inovações mais complexas e a universidade, se aproximar das demandas de mercado, da indústria”, afirmou.

Já Marisa Rizzi, gerente de Pesquisa e Inovação do Cristália, lembrou a história do laboratório fundado por Ogari Pacheco, para o qual a parceria com a pesquisa acadêmica sempre foi importante. “Hoje se fala em open innovation, mas a gente já nasceu fazendo inovação desde que abriu”, contou. “No Cristália, mudamos a forma de prospectar. Fazemos a gestão de sete plataformas de projetos, temos vários subprojetos e um time focado em prospectar ativamente. E o primeiro lugar é mapear grupos de pesquisa nas universidades, pequenas empresas e startups que possam contribuir, para daí visitar e manter contato”, acrescentou. Ela ressalta, no entanto, que um dos problemas de se fazer parceria com a universidade é a publicação de resultados de estudos em eventos e periódicos científicos, o que impede a concessão de patentes, pela ausência do requisito de novidade.

 

X SIPID

Realizado pela ABIFINA desde 2006, o X SIPID tem o patrocínio Master do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), através da Chamada Pública para Patrocínio a Eventos Técnicos 2019, tendo ficado entre os seis finalistas. Os demais patrocinadores do evento são Blanver, Cristália, EMS, Eurofarma, Grupo Farmabrasil, Libbs e Nortec Química.

 

Anterior

Regulatório de IFAs é tema de seminário internacional promovido pela ABIFINA e Abiquifi

Próxima

X Sipid debate impactos da inovação incremental e do backlog para a química fina