O Brasil precisa de uma política de Estado que reduza sua dependência externa nas áreas farmacêutica e farmoquímica, bem como incentive pesquisas e desenvolvimento de tecnologias. Para tal, a solução passa por estabilidade regulatória e uso do poder de compra do estado como fator de estímulo. Essa foi a conclusão do evento de debates virtuais “Fórum de Saúde Brasil”, organizado pelos jornais O Globo e Valor e pela revista Época. A ABIFINA participou desta terceira edição, que aconteceu na segunda-feira, dia 24 de maio, com transmissão pela internet, e cujo tema foi “A falta de insumos e a dependência externa para a produção de vacinas”.

O presidente-executivo da ABIFINA, Antonio Bezerra, é taxativo ao afirmar que, nos dias atuais, nenhum país do mundo é autossuficiente no segmento de saúde humana. Segundo ele, a globalização levou à criação de cadeias de produção que envolvem diversos países e são interdependentes. “O Brasil sofre da política de gangorra – em alguns momentos houve uma política que incentivou a indústria nacional; em outros escancaramos as portas às empresas estrangeiras sem nos prepararmos adequadamente. Isso nos levou à dependência do mercado externo. A única solução é uma política de Estado que permeie todas as esferas do setor de saúde”, explicou Bezerra.

Nelson Mussolini, presidente-executivo do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos (Sindusfarma), concordou com Bezerra e ressaltou a importância do uso do poder de compra do Estado como uma das alternativas. “Não podemos desperdiçar as lições que essa triste pandemia nos deixou. Temos que usá-las para mudar o curso de nossa história futura. Há problemas regulatórios e tributários, mas ainda possuímos pessoal altamente qualificado e muito know how. Podemos ser a locomotiva do mercado latino-americano”.

O professor e diretor associado do Instituto de Economia da Unicamp, Célio Hiratuka, também acredita que o Brasil não sai do zero, pois conta com centros de pesquisa e universidades competentes. “Podemos nos organizar de forma a recuperar a capacidade de produção nacional. No entanto, não podemos esquecer de que o futuro passa pela integração às cadeias internacionais e à indústria 4.0, na qual as técnicas de saúde se associam à Tecnologia da Informação e à Inteligência Artificial. Mas para isso é preciso articulação em vários níveis”, comentou.

Antonio Bezerra ressaltou que esse esforço já vem acontecendo no GT-Farma, criado pelo criado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) para debater o desenvolvimento de insumos farmacêuticos e medicamentos no Brasil para enfrentamento à Covid-19. “O grupo levantou um conjunto de 28 ações que compõem um Plano de Ação. Isso não seria possível sem a articulação que partiu do Governo Federal”.

O pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Ricardo Gazzinelli abordou a importância do marco legal do setor. Segundo ele, no exterior é comum que as universidades montem parcerias com empresas privadas para o desenvolvimento de produtos do setor de saúde. “Aqui no Brasil se um professor de uma universidade pública criar uma start up, ele não conseguirá fazer um acordo com um empresa. Isso limita a criatividade e as pesquisas e prejudica o desenvolvimento científico do país”. 

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