Bio-Manguinhos e Eurofarma, associadas da ABIFINA, participaram das discussões como representantes da indústria nacional de medicamentos e vacinas

A ABIFINA esteve presente no Fórum Econômico Brasil-Índia, realizado no dia 7 de julho no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, por ocasião da visita de Estado do Primeiro-Ministro da Índia, Narendra Modi, ao Brasil. O evento foi promovido por meio de uma parceria entre a ApexBrasil, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) e o Ministério das Relações Exteriores (MRE), com apoio da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e da Câmara de Comércio Índia-Brasil (CCIB).
A programação foi organizada em painéis temáticos que abordaram temas estratégicos como: Transição e Segurança Energética; Segurança Alimentar; Indústria Farmacêutica e Ciências da Vida; e Nova Indústria, Tecnologia e Inovação.
A sessão de abertura contou com a presença de Ana Paula Repezza, representando Jorge Viana (presidente da ApexBrasil), Ricardo Alban (presidente da CNI), embaixador Laudemar Aguiar (Ministério das Relações Exteriores) e Márcio Elias Rosa (secretário-executivo do MDIC).
Entre os destaques da programação, o painel “Indústria Farmacêutica e Ciências da Vida” promoveu um rico debate sobre os desafios e oportunidades para o fortalecimento da produção local de insumos e medicamentos, com foco na cooperação bilateral. Participaram da discussão:
• Rosane Cuber Guimarães, diretora de Bio-Manguinhos/Fiocruz
• Anil Dhamani, diretor nacional da Accord (Intas Group)
• Walker Lahmann, diretor-executivo da Eurofarma
• M.S. Nagendra, diretor-geral da Zydus Brasil
• Laura Castanheira, membro do Conselho de Administração da Biomm
• Com moderação de Leonardo Ananda Gomes, CEO da Câmara de Comércio Índia-Brasil (CCIB)
Destaque para os associados ABIFINA: Bio-Manguinhos e Eurofarma
Rosane Cuber Guimarães apresentou as frentes de atuação de Bio-Manguinhos, maior produtor público de vacinas do Brasil, e destacou a sólida parceria com a Índia na área de IFAs. Ressaltou que essa relação se fortalece por meio das Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo (PDPs), que garantem acesso ao mercado público atrelado à transferência de tecnologia.
A diretora também compartilhou os desafios enfrentados, como entraves logísticos — devido à ausência de voos diretos e à necessidade de transporte marítimo, que torna as entregas mais lentas — e obstáculos regulatórios, especialmente pela falta de acordos de reliance, isto é, reconhecimento mútuo entre autoridades regulatórias, entre a Anvisa e sua contraparte indiana. Ainda assim, reforçou o potencial da cooperação bilateral ao anunciar dois avanços importantes: a criação de uma plataforma de RNA mensageiro para o desenvolvimento de vacinas terapêuticas e medicamentos oncológicos, e a escolha de Bio-Manguinhos como HUB da Organização Mundial da Saúde (OMS), com foco especial em projetos voltados à tuberculose.
Walker Lahmann, da Eurofarma, destacou a necessidade de pensar separadamente as indústrias de medicamentos e de IFAs. Enfatizou que o Brasil é um dos poucos países que produz internamente mais de 80% dos medicamentos consumidos, o que reduz o risco sanitário, mas ainda depende fortemente da importação de IFAs. Reforçou a importância de entidades como a ABIFINA, Abiquifi e empresas como a Nortec na construção de uma base nacional para a farmoquímica.
Segundo Walker, a trajetória de desenvolvimento da Eurofarma pode ser dividida em três grandes fases: a produção de genéricos, o investimento em inovação incremental e, atualmente, a entrada na biotecnologia — incluindo biossimilares e, futuramente, terapias gênicas e outras tecnologias disruptivas. Ele ressaltou que a empresa está presente em 24 países e conta com 13 mil colaboradores, sendo considerada referência em inovação na América Latina. Walker afirmou ainda que a Eurofarma investe cerca de 7% de sua receita líquida em P&D e que o setor farmacêutico tem sido o maior captador de recursos vinculados à Nova Indústria Brasil (NIB), o que reforça o terreno favorável para parcerias com empresas indianas.
Cooperação Brasil-Índia: desafios e perspectivas
Durante o painel, Leonardo Ananda Gomes, CEO da CCIB, provocou os debatedores a refletirem sobre como a cooperação Brasil-Índia pode ajudar a reduzir a dependência de IFAs importados.
Anil Dhamani reforçou o interesse das empresas indianas em investir no Brasil, e destacou que o envolvimento dos governos é fundamental para acelerar as colaborações.
M.S. Nagendra, da Zydus, destacou que a Índia, além de produzir genéricos, atua em pesquisa, desenvolvimento e biossimilares, podendo contribuir significativamente com o Brasil nesse processo de estruturação da cadeia produtiva local. Ele ressaltou a importância da harmonização regulatória como passo essencial para viabilizar essas cooperações.
Laura Castanheira, da Biomm, compartilhou sua experiência recente na Índia, e observou uma mudança de abordagem nas relações bilaterais: o foco, antes predominantemente comercial, vem sendo substituído por iniciativas colaborativas entre empresas e governos. Segundo ela, o Brasil tem políticas bem fundamentadas e uma agência reguladora reconhecida internacionalmente, enquanto a Índia possui uma indústria robusta com escala de produção. Laura também anunciou a parceria da Biomm com uma empresa indiana para a produção nacional de insulina por meio de uma PDP, cuja transferência de tecnologia já está em andamento. Além disso, mencionou negociações com empresas indianas para o desenvolvimento conjunto de inibidores de GLP-1, defendendo que parcerias em biológicos devem sempre incluir a transferência de know-how.
O painel foi encerrado com otimismo quanto às perspectivas de fortalecimento da cooperação entre Brasil e Índia no setor farmacêutico, especialmente nas áreas de inovação, produção local de insumos estratégicos e ampliação do acesso à saúde. Representando a ABIFINA, participaram do evento Ana Claudia Oliveira, especialista em Propriedade Intelectual, Inovação e Biodiversidade, e Fernanda Costa, especialista em Cadeia Química, Relações Governamentais e Internacionais.


