REVISTA FACTO
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Informando ABIFINA • Fevereiro 2006 • ISSN 2623-1177
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//Artigo

A PVP e a cera de Carnaúba

A PVP Sociedade Anônima é uma empresa brasileira fundada em 1962 com o objetivo de extrair matérias-primas e fabricar produtos intermediários ou ingredientes para a indústria farmacêutica, cosmética e alimentícia. Sua operação industrial é baseada na extração de plantas encontradas na biodiversidade brasileira, em especial nas regiões norte e nordeste. Enquanto na década de 80 a preocupação com a natureza ganhava corpo em todo mundo, a PVP já utilizava plantas como matérias-primas, pois desde sua criação ela se dedicava à extração de princípios ativos obtidos a partir de espécies vegetais encontradas na biodiversidade brasileira, inclusive na floresta amazônica, onde se encontra a maior diversidade botânica do planeta. Por isso mesmo, a PVP tem coletado suas matérias-primas vegetais de forma ordenada, considerando a reposição espontânea que a natureza oferece. Os primeiros produtos da empresa desenvolveram-se a partir da Carnaúba (Copernicia Prunifera), tendo mais tarde iniciado a extração de produtos vegetais obtidos de espécies nativas importantes da flora brasileira, entre as quais se destacam, além da Carnaúba, o Jaborandi (Pilocarpus Microphyllus), a Fava d’Anta (Dimorphandra Mollis), o feijão Mucuna (Stizolobium Deeringeanum), e o Pau d’Arco ou Ipê Roxo (Tabebuia Avellanedae). A seguir apresentamos um depoimento do diretor da PVP.

A cera de Carnaúba é uma cera vegetal obtida a partir da extração e processamento do pó cerífero das palhas da palmeira denominada Carnaubeira ou Carnaúba (Copernicia Prunifera).
A Carnaubeira é uma palmeira nativa que cresce nos grandes vales dos Estados do Piauí e do Ceará e, também, em menor extensão nos Estados do Rio Grande do Norte e do Maranhão. Existem 13 espécies do gênero, todas ocorrendo na América Latina, porém somente a variedade encontrada do Brasil produz o pó cerífero. Resistente à pequena precipitação pluviométrica, embora vicejando em áreas mais “frescas” e molhadas por mais largo espaço de tempo durante os períodos de chuvas da região, a Carnaubeira não é exigente de tratos culturais e pode ser compatível com outras atividades agro-pastoris. Estima-se que entre as folhas jovens, ainda não abertas, chamadas de “olhos” ou “espadas”, além de outras designações, e as folhas adultas, abertas, coleta-se em média 60 folhas por palmeira por “corte”. Entende-se por “corte”, a atividade levada a efeito uma ou duas vezes por ano, onde, de forma sistemática, são cortadas as folhas das carnaubeiras, deixando-se pelo menos de 3 a 5 olhos.
O período de corte principia 30 dias após o término do período de chuvas, quando o terreno nos carnaubais já está seco e as palhas adultas apresentam-se maduras e com bom teor de pó, e se estende até o mês de dezembro, dependendo da paralisação dos trabalhos de coleta e do início do novo período de chuvas na região.
Considerada apenas a produção final em cera refinada, como utilizada pelas indústrias, a produção média de cera de Carnaúba por palha coletada é de 3,3 gramas. Um programa em fase de propagação do uso de estufas especiais para a secagem das palhas promete dobrar esse rendimento em teor de cera final. As exportações anuais atingem uma média 15.000 toneladas e o consumo interno é estimado ser de 2.500 toneladas. Portanto, 17.500 a 18.000 t./ano.
As palhas secas e já desprovidas da quase totalidade do pó cerífero que as recobria não são ainda aproveitadas, embora haja estudos em curso visando o aproveitamento da celulose e da lignina. O teor de celulose contido nas palhas da carnaubeira oscila entre 26 e 33%, a depender do tempo de cozimento, quantidade e natureza do álcali empregado. Tendo em conta a produção em gramas de cera por palha, a produção anual de cera e o peso médio das palhas secas da carnaubeira, chega-se a uma estimativa de que são cortadas anualmente 5 bilhões de palhas a um peso total de 1.600 mil toneladas de matéria-prima para uma eventual produção de celulose. Neste sentido, apresentamos um trabalho à consideração da 3ª Conferencia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, ocorrida em outubro do ano passado em Brasília.
O valor total das exportações de cera de Carnaúba mais o consumo interno (em dólares) é de aproximadamente 38 milhões de dólares. A utilização da metade da matéria-prima disponível para a produção de celulose de fibra curta resultaria em 240 mil toneladas de celulose que, ao preço atual de US$ 580.00/t, produziriam 140 milhões de dólares, quatro vezes mais do que o valor atual da cera produzida que, entretanto, poderá aumentar rapidamente pelas melhorias do processo de secagem da palha como vimos propondo há anos.
Mais de 85% da cera de Carnaúba se compõe de ésteres de ácidos graxos, além de pequenas porcentagens de ácidos graxos livres, de álcoois livres, além de pequena quantidade de resinas e hidrocarbonos.
A cera é uma cera dura e de alto ponto de fusão (83º- 85ºC). O uso tradicional mais importante para a cera de Carnaúba era para polimentos em geral, tendo essa aplicação evoluído tanto no uso de graxas industriais permanentes como no emprego de emulsões de diversos tipos para as mais diversas aplicações. Outras características físico-químicas da cera de Carnaúba respondem pelo o seu largo emprego em eletrônica (chips e transistores) e no setor de informática, tanto na área de reprodução das informações como na de produção de hardwares. Corolário dessa informação é o crescimento do consumo da cera de Carnaúba que, de 1.700 t/ano em 1993, atingiu 3.600 t. em 2001 (caiu um pouco nos anos seguintes devido à crise ocorrida naquele país que importou, em 2004, 2.700 toneladas; mesmo assim, um incremento formidável em um mercado, até aqui, maduro).
A propalada escassez do petróleo abre grandes novas perspectivas para a cera de Carnaúba, pois os polímeros derivados do petróleo tratados até aqui como subprodutos passarão cada vez mais a ser considerados como produtos principais na formação dos custos e preços de venda e, como já vem ocorrendo atualmente, tenderão a ter seus preços sensivelmente aumentados. Como a cera entra em muitas formulações onde os polímeros também se incluem, pode-se esperar que ela venha a ter maior participação nessas fórmulas. Daí a necessidade de promover-se um aumento de sua produção.
Seja para aplicação nos setores onde a cera já é utilizada, onde uma demanda mais específica exigirá a produção de tipos especiais de ceras (baixo teor de bolhas de ar na cera, baixo teor de cinzas, índice de acidez controlado e baixo, teores mais definidos de índices de saponificação e outras ceras para usos especiais), seja para fins não contemplados atualmente que abrirão largas perspectivas para a cera de Carnaúba, é de esperar-se uma impulsão do produto, o que exigirá aumento de capacitação científica e tecnológica dos participantes do setor.
A PVP S.A. e a Tropical Ceras do Brasil Ltda., sua coligada, produzem todos os tipos de ceras de Carnaúba, detendo, inclusive, patente de processo exclusivo de fabricação. Além da Carnaúba, produz também a cera de abelhas e outros tipos especiais de ceras, área onde desenvolve pesquisas continuadamente.

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