REVISTA FACTO
...
Set-Dez 2021 • ANO XV • ISSN 2623-1177
2023
73 72 71
2022
70 69 68
2021
67 66 65
2020
64 63 62
2019
61 60 59
2018
58 57 56 55
2017
54 53 52 51
2016
50 49 48 47
2015
46 45 44 43
2014
42 41 40 39
2013
38 37 36 35
2012
34 33 32
2011
31 30 29 28
2010
27 26 25 24 23
2009
22 21 20 19 18 17
2008
16 15 14 13 12 11
2007
10 9 8 7 6 5
2006
4 3 2 1 217 216 215 214
2005
213 212 211
Redução unilateral do Governo brasileiro da TEC traz danos à indústria
//Artigo

Redução unilateral do Governo brasileiro da TEC traz danos à indústria

A decisão brasileira unilateral de reduzir em 10% as alíquotas da Tarifa Externa Comum (TEC), que entrou em vigor em novembro de 2021, precisa ser revista baseando-se em aspectos técnicos e considerando os efeitos em todos os setores produtivos. A alegação de que a medida favoreceria a competividade brasileira não se sustenta. Essa experiência liberal em países periféricos sempre se mostrou infrutífera, com consequências negativas aos geradores da riqueza nacional, os produtores, e favorecimento exclusivo aos importadores.

O discurso liberal do século XVII continua em voga. É comum ouvirmos os argumentos de que o tratamento “jurássico” de proteção tarifária no Brasil é bem superior à média mundial, que superprotegemos nossas produções, que não somos competitivos, o que acarretaria um custo adicional ao consumidor e às empresas brasileiras na aquisição de seus insumos.

No entanto, toda a economia contemporânea baseia-se em grandes conglomerados, produção oligopolizada e arranjos de cadeia em nível internacional. Essas e outras características contradizem a tão defendida visão liberal por países que não se preocupam com o desenvolvimento em longo prazo.

Ainda assim, não defendo a manutenção da TEC de modo absoluto. O correto seria estudar o impacto da redução tarifária em cada cadeia produtiva, ou seja, estabelecer uma política industrial de fato, como é feito nos países centrais capitalistas. Nações como a Alemanha e a China, tão diferentes politicamente, possuem políticas de proteção a partir de análise dos impactos.

Também se encontram medidas protetivas em lugares como os Estados Unidos, onde a segurança nacional é considerada o setor mais importante. Além de haver forte regulação na área de saúde e dispositivos para produção estratégica nas áreas agrícola e da saúde em países da Europa e nos próprios Estados Unidos.

No Brasil não se quer fazer isso, pois dá trabalho. É mais fácil fazer algo generalizado, com o discurso de que não podemos ter áreas mais importantes que outras, ainda que as medidas atuais protejam o que sempre foi protegido. Para assegurar o real desenvolvimento de áreas estratégicas, pode-se e deve-se proteger setores que contribuem para a saúde, produção agrícola e inovação, como é praticado por países que tiveram sucesso na sua industrialização.

O caso brasileiro é ainda pior, por ser uma posição unilateral que desconsidera que estamos dentro de um mercado comum, o Mercosul. Há uma clara demonstração de que não há consistência nas relações do Brasil com seus parceiros do tratado.
A nossa presença nesse acordo sempre desagradou os liberais brasileiros, pois impede a subserviência nacional às sociedades ricas.

Além disso, não há nada que sustente tecnicamente a proposição de se reduzirem 10% nos valores atuais da TEC. Trata-se de uma medida política ineficaz. A proposta não atende em momento algum a uma redução de custos para o consumidor ou mesmo para a produção nacional, e seu impacto real é mostrar a ausência de uma política nacional de médio e longo prazos.

No caso específico da química fina, essa redução só traz o que sempre trouxeram as políticas liberais: diminuição da produção nacional, com aumento nos custos, já que a formação de preços do produto importado não se dá pela TEC, mas pelo número de fornecedores, sempre pequeno em escala internacional. Isso afeta a competitividade do Brasil como um todo, e desconsidera a criação de empregos, o pagamento de impostos e o impacto na inovação das empresas brasileiras.

A primeira pergunta que fica é: por que não se trabalha para que as empresas brasileiras tenham tratamentos similares às empresas exportadoras para o Brasil? Se somarmos os impostos que incidem sobre a produção nacional (PIS/COFINS, ICMS diretamente na produção), além de outros custos, como frete interno, veremos que os produtos importados têm maior competitividade que os produtos brasileiros, mesmo com a baixa infraestrutura dos portos nacionais. Isso faz com que a suposta proteção da TEC seja muito inferior aos custos impostos para quem cria riqueza no Brasil.

A segunda pergunta é: qual a razão de não termos continuidade das políticas públicas e de não procurarmos cumprir pelo menos uma etapa completa dessas políticas para que verifiquemos sua efetividade? Mesmo quando a política existe e é um sucesso, ela não agrada, e mudamos novamente.

A resposta é clara, temos que ter política de Estado e não pessoais. Precisamos de trabalho organizado, com propostas bem delineadas e que possam ser defendidas, políticas que possam ser questionadas e mudadas com base técnica, de política pública, e que favoreçam a população brasileira como um todo.

O problema é que sempre achamos que o estrago pode ser revertido. No entanto, o custo é muito grande. Estamos pagando bastante pelas políticas ultraliberais implementadas na área econômica, que deixaram resultados negativos para a população brasileira. Precisamos recuar dessa posição unilateral e negociar algo que seja pelo bem da comunidade em que vivemos, no caso, o Mercosul, fazendo os ajustes necessários. Há diversas cadeias produtivas que precisam de uma política de desenvolvimento, se não quisermos continuar reféns de setores e indústrias com controle 100% externo, que sempre conseguem se defender, tanto na produção quanto na importação.

Zich Moyses Junior
Zich Moyses Junior
Consultor nas áreas farmacêutica, biotecnológica e de produtos para a saúde.
Libbs abre suas portas para projeto de inovação e parcerias com startups
Anterior

Libbs abre suas portas para projeto de inovação e parcerias com startups

Próxima

XII SIPID debate extensão de patentes e exclusividade sobre dados de testes