REVISTA FACTO
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Jan-Abr 2020 • ANO XIV • ISSN 2623-1177
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//Artigo

DOENÇAS NEURODEGENERATIVAS RELACIONADAS AO ENVELHECIMENTO

Vivemos hoje um período de crescimento da população idosa mundial e o Brasil é um dos países em mais rápido processo de envelhecimento ao redor do mundo, com uma população de idosos na casa dos 30 milhões. Como resultado, temos as doenças relacionadas ao envelhecimento ganhando cada vez mais destaque no sistema de saúde, evidenciando que, num contexto de desigualdade social e escassez de recursos, essa transição demográfica, e consequentemente epidemiológica, traz demandas substanciais ao Sistema Único de Saúde (SUS), com impacto para toda a sociedade.

A saúde do cérebro é um dos segredos para desfrutar um envelhecimento saudável. Entretanto, dados do Estudo sobre Carga Global de Doenças, Lesões e Fatores de Risco 2015 (GBD) demonstraram que o ônus dos distúrbios neurológicos aumentou enormemente desde 1990. Isso é reforçado pelo fato de que, segundo a Alzheimer’s Association, o número de pessoas que morreram ou ficaram incapacitadas pela doença de Alzheimer mais que dobrou nos últimos 25 anos. As demências são as doenças neurodegenerativas mais onerosas em todo o mundo, com o Alzheimer representando de 60 a 70% dos casos. Ainda no âmbito do envelhecimento, o número de pessoas com a doença de Parkinson mais do que duplicou desde 1990, tendo agora o mais rápido crescimento entre os distúrbios neurológicos.

Atualmente, estima-se que mais de 50 milhões de indivíduos vivam com algum tipo de demência em todo o mundo, com aumento previsto para 75 milhões, até 2030, e para 131,5 milhões, até 2050 (Alzheimer’s Disease International). Segundo a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), no Brasil, são esperados 55 mil novos casos de demências todos os anos, a maioria decorrentes do Alzheimer. No caso da doença de Parkinson, calcula-se que a enfermidade afete de sete a dez milhões de pessoas em todo o mundo, ou cerca de 1,5% da população acima de 65 anos, tendo maior incidência entre os homens. No Brasil, segundo a Academia Brasileira de Neurologia, a patologia atinge mais de 200 mil pessoas.

Tais doenças resultam da degeneração progressiva ou morte de células nervosas, responsáveis pelas funções do sistema nervoso. O sintoma inicial mais comum e mais conhecido na doença de Alzheimer é a dificuldade em lembrar eventos recentes. Porém, à medida que o distúrbio se desenvolve, outros sintomas podem surgir, como desorientação, alterações de humor, confusão, alterações comportamentais, dificuldades para falar e engolir e problemas com a marcha. No estágio final, as pessoas precisam de ajuda com atividades básicas diárias, como tomar banho, vestir-se, comer e usar o banheiro. Além disso, perdem a capacidade de se comunicar, não reconhecem entes queridos, ficam na cama e dependem de cuidados 24 horas por dia.

Já a doença de Parkinson é caracterizada pela perda do controle motor. Além da sintomatologia motora, alguns sintomas não motores, como diminuição do sentido do olfato, movimentos oculares rápidos, distúrbio comportamental do sono, alterações de personalidade, dor, sensações cutâneas subjetivas e depressão, podem estar presentes e até se manifestarem antes da doença. É um transtorno neurológico complexo e progressivo, que, semelhante à doença de Alzheimer, afeta a saúde e a qualidade de vida dos pacientes e compromete sua estrutura socioeconômica familiar. 

O fato de não haver um método diagnóstico simples para essas doenças continua a ser uma barreira importante para a prestação de cuidados adequados aos pacientes. Embora ainda não exista cura, o diagnóstico precoce é um pré-requisito para o acesso a serviços de apoio e tratamento dos sintomas.

Os custos econômicos de se cuidar de um número crescente de pessoas com essas doenças são imensos, e a carga combinada dessas enfermidades, tanto econômica quanto social, é ainda mais assustadora. A natureza progressiva dos distúrbios neurológicos pode afetar profundamente a vida dos pacientes e de suas famílias por muitos anos. Os impactos dessas enfermidades, em vista do aumento previsto da prevalência nas próximas décadas, representam um enorme desafio para qualquer sociedade.

Os gastos globais com as demências foram estimados em mais de US$ 818 bilhões em 2015, representando mais de 1% do agregado global de produtos internos brutos (PIB) – um enorme impacto para um único grupo de transtornos. Só o mercado global de produtos farmacêuticos e diagnósticos para a doença de Alzheimer foi calculado em US$ 10 bilhões no mesmo ano, enquanto o custo anual mundial com medicamentos antiparkinsonianos está em torno de 11 bilhões de dólares, sendo o tratamento cerca de três a quatro vezes mais caro para os pacientes na fase avançada da doença. Isso destaca não apenas a ausência de terapia efetiva, mas também a oportunidade de desenvolvimento de novas opções de tratamento.

Portanto, do ponto de vista econômico e social é essencial que essas doenças sejam alvo de políticas públicas voltadas para a atenção à saúde de maneira geral, principalmente no sentido de prover incentivos importantes ao desenvolvimento de terapias e métodos diagnósticos eficazes ao manejo dessas doenças. Esse investimento substancial é imprescindível para prevenir um destino penoso para os pacientes, para as famílias e para o orçamento do SUS.

Descobertas sobre os mecanismos genéticos e moleculares desses males, com vistas ao desenvolvimento de tratamentos e métodos diagnósticos eficazes, aliados a uma extensiva abordagem de saúde pública baseada em evidências, parece ser o caminho para mitigar os profundos danos que essas doenças causam. Além dos danos físicos aos pacientes, também devem ser considerados o alto custo da assistência, perda de renda da família pela aposentadoria antecipada, redução da carga horária de trabalho do familiar cuidador e a diminuição da qualidade de vida do paciente e do cuidador.

É fato notório que o Brasil enfrenta um grande desafio no que diz respeito à progressiva demanda para o aumento do acesso da população aos serviços de saúde. Além disso, outros desafios a serem enfrentados são a necessidade de se assegurar a sustentabilidade do SUS e a necessidade de redução da dependência externa de tecnologias. Sendo assim, a implementação de políticas públicas específicas para o desenvolvimento científico e tecnológico é uma tarefa essencial ao País, com vistas a criar e consolidar competências nacionais nesse sentido.

Incontestavelmente a pesquisa e a inovação em saúde são elementos essenciais ao crescimento e desenvolvimento de uma nação. Elas contribuem para a saúde diretamente, mas também indiretamente, através do impacto potencial na atividade econômica e pelo fato de instigar uma cultura de desenvolvimento tecnológico. No caso das doenças de Alzheimer e de Parkinson e de outras demências, inúmeros indícios apontam para a necessidade de ações para encarar com tempestividade esse desafio premente. Nesse sentido, desde já, ações coordenadas entre o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, o Ministério da Saúde, a Finep e outros agentes, utilizando recursos reembolsáveis e não reembolsáveis, conciliando política de inovação com política de abastecimento, são de extrema importância para minorar o impacto socioeconômico e preparar o SUS para o atendimento aos pacientes.

Laila Cristina Boff Boaventura
Laila Cristina Boff Boaventura
Farmacêutica e bioquímica, Analista Setorial da Finep
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