REVISTA FACTO
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Out-Dez 2018 • ANO XII • ISSN 2623-1177
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//Artigo

2019: O ANO QUE PODE MARCAR A MUDANÇA

Poucas vezes a nação brasileira teve uma chance tão grande de embarcar nos ventos de uma grande mudança. A posse de um novo presidente da República, eleito democraticamente após uma campanha em que acenou com tendências liberais para a economia, nos faz acreditar que o País pode dar uma grande virada. Soma-se a isso a renovação do Congresso Nacional, a maior de toda a história. No Senado, apenas oito das 54 cadeiras em disputa foram ocupadas por candidatos reeleitos. Já a Câmara dos Deputados recebeu o maior número de deputados federais estreantes dos últimos vinte anos, com a eleição de 243 parlamentares – ou quase metade do total – que nunca haviam passado pela casa legislativa.

Entre os governadores, também houve uma renovação sem precedentes. Dos vinte que tentaram a reeleição, apenas dez conseguiram, sendo que seis sequer chegaram ao segundo turno. Novos nomes que nunca tinham chegado ao Poder Executivo terão como grande desafio sanear as contas de seus estados.

Todo novo governo representa uma esperança para os brasileiros, sejam eles trabalhadores ou empresários. Mas o governo que se inicia em 2019 terá talvez os maiores desafios de nossa história recente, pois terá que assumir as rédeas de um país dividido ideologicamente, que mal saiu da maior recessão de sua história e que convive com o drama de mais de 27 milhões de pessoas desempregadas ou subutilizadas, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para que essa virada histórica aconteça, os novos governantes precisam fazer uma lição de casa difícil, de forma extremamente rigorosa.

O primeiro item dessa lição de casa é, sem dúvida, o combate implacável e sistemático à corrupção, hoje o mal que gera todos os outros males brasileiros. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), em relatório divulgado em 2017, o Brasil perde cerca de R$ 200 bilhões ao ano com esquemas ligados à corrupção. É necessário que todos se conscientizem de que a corrupção mata, pois é um dinheiro que deveria ser aplicado em saúde, segurança, educação e no bem-estar da população. A escolha emblemática de um juiz federal que se tornou símbolo da guerra contra a corrupção para ocupar a pasta da Justiça demonstra que o novo presidente está disposto a escrever uma nova história. Mas, para que isso realmente aconteça, nós, brasileiros, temos que cobrar.

Na lista de prioridades devem estar também as reformas. A primeira delas, a da Previdência, não foi aprovada no último governo por ser extremamente impopular. Este novo Congresso Nacional terá que ter a coragem de fazer o que é certo pelo País, sem pensar nos votos que deixaria de receber daqui a quatro anos. A reforma da Previdência não apenas é necessária para equacionar o profundo caos fiscal em que o Brasil está mergulhado como pode ser usada como ferramenta de justiça social. O modelo de aposentadorias e pensões que temos hoje destina a maior parte dos recursos para a parcela mais privilegiada da população, quando deveria ocorrer justamente o contrário.

De acordo com estudo publicado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), em 2060 o percentual da população com 65 anos ou mais chegará a 25,5%. Ou seja, o total de idosos alcançará 58,2 milhões pessoas. Hoje, nos cálculos da entidade, 44 pessoas economicamente dependentes – com menos de 15 e mais de 64 anos – necessitam das contribuições de 100 pessoas em idade de trabalhar. Daqui a 22 anos, 67 dependerão, para sobreviver, de um grupo de cem trabalhadores que contribuam para o sistema previdenciário.

Saneadas as contas públicas, será necessário olhar com atenção para a questão tributária. De acordo com o Mapa Estratégico da Indústria elaborado também pela CNI, o Brasil está em 15º lugar, em um ranking com 18 países, no fator peso dos tributos e competitividade. Uma reforma tributária que ajude a tirar o País da crise, atrair investimentos e gerar empregos deve necessariamente estar baseada nas seguintes premissas: simplificação tributária, redução dos custos administrativos para gerenciamento de tributos – de governo e empresas – e segurança jurídica para quem empreende. Em uma segunda etapa, de acordo com a CNI, nos próximos quatro anos seria possível, sim, reduzir as distorções com a cumulatividade dos tributos. A recuperação do equilíbrio fiscal, combinada com maior eficiência do gasto público, pode permitir que os impostos não pesem tanto nos custos da empresas.

Nós, executivos e empresários, também temos que fazer a nossa parte. Devemos ser implacáveis em relação à governança e aos códigos de ética e compliance das empresas que lideramos. Devemos continuar investindo. E temos que criar maneiras de aumentar a produtividade e as inovações em nossas companhias.

De acordo com o estudo da CNI já citado, entre 2000 e 2016, o Brasil apresentou um quadro praticamente estagnado de produtividade do trabalho. Nesse período, a produtividade na indústria brasileira cresceu apenas 8,8%, o menor percentual entre nossos principais parceiros comerciais. A baixa produtividade do trabalho torna as empresas menos lucrativas e com menos capacidade de investimento em inovação e prejudica a competitividade da indústria brasileira nos mercados doméstico e internacional.

“Para que essa virada histórica aconteça, os novos governantes precisam fazer uma lição de casa difícil, de forma extremamente rigorosa.”

Para que o almejado aumento de produtividade saia do papel, é necessário investir em processos de gestão mais eficientes, em qualificação profissional e em internacionalização, a qual permitirá que as companhias se credenciem a competir no mercado global. É necessário investir também na inovação de produtos, processos e modelos de negócios disruptivos, que permitam não apenas produtos e serviços com mais qualidade, mas também mais acessíveis aos brasileiros.

“Devemos ser implacáveis em relação à governança e aos códigos de ética e compliance das empresas que lideramos.”

Talvez este seja o maior desafio para os empreendedores. Entre os 137 países que fazem parte do ranking de Inovação divulgado pelo Fórum Econômico Mundial (FEM) em 2017, figuramos em um modesto 85º lugar. De acordo com a CNI, para que o País avance nesse ranking, é necessário disseminar as novas tecnologias, promover o acesso às informações e aos serviços em inovação e fortalecer a relação entre empresas e instituições científicas e tecnológicas. Como parte desse esforço, é essencial a parceria contínua entre empresas e academia.

Se o novo governo fizer o dever de casa corretamente, conseguiremos não desperdiçar essa nova janela de oportunidade de mudança. Com as contas em ordem, empresas produzindo, trabalhadores empregados e empreendedores confiantes, poderemos fazer os investimentos necessários no futuro de nossa população, garantindo atendimento de saúde adequado, educação de qualidade e segurança para todos. Não é possível que o nosso País, às vésperas da segunda década do novo milênio, ainda tenha cerca de 11 milhões de analfabetos, índices de violência próximos aos de países em guerra e uma taxa de mortalidade infantil incompatível ao de um país que quer ser uma nação desenvolvida.

Claudia Reis
Claudia Reis
Jornalista, pós-graduada em finanças e mercado de capitais (IAG-PUC RJ) e empreendedora.
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