REVISTA FACTO
...
Abr-Jun 2017 • ANO XI • ISSN 2623-1177
2023
73 72 71
2022
70 69 68
2021
67 66 65
2020
64 63 62
2019
61 60 59
2018
58 57 56 55
2017
54 53 52 51
2016
50 49 48 47
2015
46 45 44 43
2014
42 41 40 39
2013
38 37 36 35
2012
34 33 32
2011
31 30 29 28
2010
27 26 25 24 23
2009
22 21 20 19 18 17
2008
16 15 14 13 12 11
2007
10 9 8 7 6 5
2006
4 3 2 1 217 216 215 214
2005
213 212 211
//Artigo

COMO EXPLORAR INDUSTRIALMENTE A BIODIVERSIDADE BRASILEIRA

Acredito que a única forma de explorar industrialmente a biodiversidade brasileira é respeitando os pilares da sustentabilidade: econômico, ambiental e social. No entanto, embora muitas empresas tenham incluído a busca pela sustentabilidade em suas missões e visões, ainda são raras aquelas reconhecidas como exemplo a ser seguido nesse campo. Isso se deve, principalmente, à falta de um modelo que alie, de forma eficaz, o planejamento estratégico, particularmente o Balanced Scorecard (BSC). Esse é um sistema de gestão baseado em indicadores de controle interligados logicamente, que permitem a avaliação do desempenho, traduzindo a missão e a estratégia em objetivos e medidas organizados nas perspectivas financeira, dos clientes, dos processos internos, aprendizado e crescimento. Temos tido bons resultados neste sentido, alinhando os conceitos de sustentabilidade com a estratégia da Centroflora.

Há quase 60 anos o Grupo Centroflora atua no mercado de extratos vegetais. Antenado às evoluções mercadológicas e regulatórias, criou o programa corporativo Parcerias para um mundo melhor, cujo intuito é integrar o consumidor final a comunidades e pequenos agricultores rurais, por meio do fomento à agricultura familiar orgânica e do manejo florestal sustentável, contribuindo com a melhoria da qualidade de vida e do meio ambiente. São estabelecidos contratos de parceria entre o cliente e a empresa, e posteriormente entre empresa e agricultor, através dos quais o Grupo Centroflora garante a compra de safras planejadas e a transferência de tecnologia necessária para o campo, integrando de forma responsável toda a cadeia produtiva.

Muitas vezes a tecnologia de cultivo da espécie de interesse é desenvolvida pela própria Centroflora em seus campos de cultivo experimentais, já que várias espécies sequer possuem protocolos de produção. Tal tecnologia é transferida para os produtores por meio de assistência técnica da equipe de Botânica da empresa. Comunidades rurais, associações, cooperativas e pequenos produtores são pré-selecionados para se tornarem fornecedores de plantas medicinais. As espécies selecionadas para cultivo passam por análise botânica, agronômica e de viabilidade, garantindo-se o fomento da espécie desejada. Já aquelas passíveis de manejo florestal passam por prospecção de áreas capazes de suprir a demanda existente.

Efetuadas as etapas de colheita e secagem, a planta é enviada para as instalações do Grupo Centroflora, onde, após análise e comprovação de sua qualidade, são extraídas suas substâncias ativas, por meio de solventes seguros e recicláveis (água, etanol – álcool da cana de açúcar – e glicerina vegetal). Os extratos são concentrados e secos, utilizando-se tecnologias que garantem a integridade do princípio ativo e excipientes livres de manipulação genética, como amido de mandioca.

Os principais benefícios alcançados por meio do programa Parcerias para um mundo melhor são: abordagem técnica e comercial, feita diretamente pelas equipes técnicas da Centroflora, evitando assim atravessadores e má distribuição dos valores envolvidos (maior renda na base da pirâmide); rastreabilidade total do extrato produzido; garantia do fornecimento de matérias-primas seguras e de qualidade; extratos livres de resíduos tóxicos, pesticidas e metais pesados; extratos livres de manipulação genética; fomento da agricultura familiar orgânica e do manejo sustentável de espécies silvestres. Todo esse trabalho tem auditoria e certificação da Union for Ethical Biotrade (UEBT).

Visando a um maior envolvimento com os parceiros agrícolas, projetos socioambientais são desenvolvidos junto às comunidades, através de parcerias com organizações não governamentais, especialmente com o Instituto Floravida. Fundado e mantido pelo Grupo Centroflora, o Instituto desenvolve diversos projetos na área socioambiental, sempre construídos em rede, aproveitando as potencialidades dos parceiros locais.

Um bom exemplo de sucesso dessa atuação conjunta entre a empresa e o Floravida é o projeto Valorização do Jaborandi, concebido para gerar renda a partir do manejo florestal não madeireiro. Nele, nossa empresa, além de outras contribuições, tem papel fundamental, ao realizar a compra de todo o jaborandi coletado, garantindo geração de renda e, consequentemente, promovendo o desenvolvimento econômico local.

O Instituto Floravida existe desde 2002 e tem como missão contribuir com a transformação socioambiental das comunidades envolvidas, promovendo a educação em defesa da vida. Com seus projetos, que seguem diretrizes estabelecidas por políticas públicas, o Instituto planeja e executa ações onde o poder público não consegue atuar, dando assim sua contribuição para a consolidação dessas políticas.

O Grupo Centroflora agrega em seu portfólio cerca de duzentos produtos destinados aos mercados de saúde, alimentos e bebidas e cuidados pessoais. Usando tecnologias e processos que permitem isolamento, extração, concentração e secagem de ativos naturais de alto valor agregado, com qualidade e rastreabilidade asseguradas, a empresa é referência no setor.

A linha de produtos Centroflora possui diversas apresentações e padronizações, abrangendo desde itens de menor complexidade tecnológica até os chamados farmoquímicos (>99%), que são considerados insumos farmacêuticos de alta pureza. Entre eles, destaque para os extratos botânicos padronizados para uso em fitoterápicos e em alimentos funcionais, óleos essenciais de grau farmacêutico, polpas de frutas desidratadas, além de ativos isolados de origem natural, como os sais de pilocarpina e a quercetina.

Para administrar toda a produção, o Grupo conta com uma ampla rede de distribuição, com presença em mais de setenta países e um grande volume de exportações. Mais de 60% das nossas vendas são exportações para os mercados mais desenvolvidos e exigentes do mundo. No mercado internacional, apesar de o principal produto exportado ser a pilocarpina (para uso farmacêutico), 80% do volume exportado é destinado ao segmento de nutracêuticos, em que se destacam, entre outros, os extratos de acerola, guaraná, açaí, erva mate e café verde.

Em âmbito nacional, somos considerados uma das principais no ramo e algumas plantas medicinais podem ser consideradas as responsáveis por toda essa evidência. No Brasil, a Centroflora ocupa uma posição de destaque no mercado de insumos farmacêuticos naturais, com destaque para a Passiflora incarnata, planta medicinal que possui efeito calmante e sedativo contra o nervosismo e os distúrbios do sono, e também para a Cordia verbenácea, planta medicinal brasileira utilizada como anti-inflamatório natural.

As unidades produtivas são subdivididas pelas Unidade de Secagem e Unidade de Extratos Vegetais, ambas em Botucatu, interior do estado de São Paulo, e pela Unidade Farmoquímica, em Parnaíba, no Piauí. A empresa conta ainda com uma área agrícola em Parnaíba, onde é cultivada a Cordia verbenácea, utilizada para a produção de um óleo que é o principal ingrediente da linha Acheflan, do laboratório brasileiro Aché.

Infelizmente, a legislação de acesso ao patrimônio genético, por muito tempo, foi um dos principais entraves para o desenvolvimento de fitoterápicos no Brasil. A MP 2.186-16/01 foi uma fonte de insegurança jurídica que ameaçava o desenvolvimento da indústria farmacêutica e de biotecnologia no País. Isso causou uma paralisação de quase uma década no desenvolvimento de tecnologias a partir da biodiversidade brasileira. Temos uma expectativa positiva em relação às mudanças no cenário, a partir da Lei 13.123, sancionada em 2015, que trouxe diversos avanços para a P&D baseada em biodiversidade. Apesar de todas essas melhorias, ainda existem pontos que precisam ser regulamentados. E a grande demora na implementação do sistema online também vem causando prejuízos ao setor.

O Brasil tem potencial para se tornar referência no desenvolvimento de fitomedicamentos embasados cientificamente e produzidos atendendo a altíssimos padrões de qualidade, a exemplo do que acontece em países como a Alemanha. Os fatos relatados acima nos animam, pois entendemos ser um elo de ligação entre o campo e o mercado, entre as florestas brasileiras e a inovação. Isso nos motiva a continuar sendo um agente de transformação, no sentido de trazer o potencial da biodiversidade brasileira para o mercado de medicamentos e alimentos funcionais, promovendo uma melhor qualidade de vida, com responsabilidade socioambiental. Transformar essa fantástica riqueza de nossa biodiversidade em produtos éticos e seguros talvez seja o melhor caminho para o País gerar propriedade intelectual brasileira – nossa grande carência. Porém, temos conhecimento de que esse caminho é longo e custoso, motivo pelo qual precisamos trazer mais interessados e formar uma grande nação inovadora.

Cristina Dislich Ropke
Cristina Dislich Ropke
Diretora de Inovação do Grupo Centroflora.
Estado precisa investir para indústria do País voltar a crescer
Anterior

Estado precisa investir para indústria do País voltar a crescer

Próxima

Haverá uma retomada da Política de Desenvolvimento Produtivo do Complexo Industrial da Saúde?