REVISTA FACTO
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Jul-Set 2016 • ANO X • ISSN 2623-1177
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//Matérias

Seminário apresenta perspectivas para expansão da cadeia do lítio no País

Considerado o petróleo do futuro, o lítio tornou-se elemento central nas discussões em torno das energias limpas e nováveis. Ocupou posição estratégica para os países que desejavam desenvolver suas indústrias nucleares, incluindo a fusão uclear, além da expansão da cadeia do lítio a partir de novas aplicações, como nos carros elétricos e híbridos. Para ebater essas e outras questões, realizou-se no dia 21 de julho, no Rio de Janeiro, o II Seminário sobre Lítio-Brasil. O vento foi organizado pelo Centro de Tecnologia Mineral (Cetem) e reuniu especialistas e profissionais do setor. Estiveram presentes Nelson Brasil, 1º vice-presidente da ABIFINA, Aguinaldo Couto e Décio Casadei, membros do Conselho de dministração da Cia. Brasileira de Lítio (CBL), e Paulo Renesto, diretor de Operações dessa mesma empresa.

Em sua apresentação, Renesto falou sobre a pesquisa e extração de lítio a partir de rochas pegmatíticas, bem como a  rodução de produtos químicos derivados do mineral no Brasil. Conforme explicou o diretor da CBL, a principal demanda do  ercado brasileiro é de hidróxido de lítio, que responde por 90% do mineral consumido no País, segundo dados apresentados pelo Cetem. Esse composto é usado principalmente no segmento de graxas lubrificantes. De acordo com Pedro Nelson Belmiro,  oordenador da Comissão de Lubrificantes e Lubrificação do Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP), a graxa de lítio representa cerca de 70% do mercado brasileiro de graxas lubrificantes.

A expectativa, entretanto, é que o cenário nacional mude com a chegada de fabricante de baterias de lítio, o que deve acontecer nos próximos anos. “Fomos procurados por um grande produtor de baterias de lítio que pretende montar instalações no ano que vem e já estamos estudando a produção de carbonato de lítio grau eletroquímico de alta pureza, pela rota da bicarbonatação”, revelou Renesto. Caso a negociação se concretize, a CBL passará a produzir o carbonato de lítio em grande escala.

A afirmação trouxe certa apreensão para representantes das empresas de lubrificantes presentes no evento. Marcio Honorato, coordenador do Grupo de Trabalho de Graxas da Comissão de Lubrificantes do IBP, questionou se haveria desabastecimento do setor, já que a produção do carbonato poderia concorrer com a do hidróxido, como já ocorre internacionalmente. O diretor da CBL explicou, no entanto, que o risco não existe, pois a companhia tem capacidade para aumentar a produção, e o setor se beneficiaria com a queda de preços. “Hoje atendemos a toda a produção interna de hidróxido e de carbonato, que é pequena em comparação a outros cenários, então o aumento da demanda no Brasil geraria uma redução de custos”, afirmou Renesto.

Além da produção do carbonato de lítio, a CBL estuda também, em parceria com o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), como fazer a separação isotópica do lítio-6 e 7, a fim de atender integralmente à demanda da indústria nuclear nacional. O lítio-7 é fundamental para o funcionamento das usinas nucleares, sendo usado no resfriamento de reatores. Recentemente, o setor de energia nuclear nacional enfrentou dificuldades na aquisição do lítio-7, conforme relatou Leonam dos Santos Guimarães, diretor de Planejamento, Gestão e Meio Ambiente da Eletrobras/Eletronuclear. Sendo o  lítio-7 um subproduto do enriquecimento de lítio-6 usado para produção de trítio para armas termonucleares, sua produção é restrita a poucos fornecedores. A situação foi resolvida temporariamente, mas o risco de uma crise de desabastecimento ainda existe, devido às mudan- ças no cenário internacional. Daí a importância de um produtor brasileiro que detenha a tecnologia para obtenção do lítio-7

Devido à sua aplicação estratégica na indústria nuclear, o Brasil conta, desde 1997, com uma política de energia nuclear que submete à regulação da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) toda a produção e a comercialização do lítio e seus derivados no País. Para Renesto, essa política é fundamental para permitir o fortalecimento da cadeia nacional, já que a produção de lítio a partir das reservas minerais, fonte nacional, tem custo superior à produção das salmouras, que abastece boa parte do mercado mundial. Para Nelson Brasil, essa é uma política pública de Estado estratégica para o País, pois defende os interesses soberanos nacionais. Paulo Cruz, representante da CNEN, também defendeu a política e lembrou que outros países possuem práticas semelhantes. “Os países protegem suas empresas, mas não divulgam. As salmouras são exploradas por um duopólio formado por empresas de capital majoritariamente americano. E os EUA consomem lítio da salmoura no dia a dia. Mas na indústria bélica, espacial, de ponta, eles exploram as minas de espodumênio, que não foram fechadas”, argumentou.

Aguinaldo Couto (CBL)

No mercado internacional, a cadeia do lítio está sendo impulsionada pelo aumento do consumo de eletrônicos e, no futuro breve, deverá atender ainda à expansão dos carros elétricos/híbridos e de acumuladores de lítio, espécie de baterias gigantes usadas para armazenamento de energia de fontes intermitentes (como a solar e a eólica). O impacto das mudanças já está sendo sentido nos custos. “O preço subiu nos últimos anos, por conta do aumento da demanda. Até início dos anos 2000, o lítio era um produto super ofertado. Em 2014 e 2015, acabou tendo falta de produto, devido à procura maior por matéria- -prima”, explicou Márcio Goto, da CRU Internacional, empresa de consultoria e análise de mercado no setor de mineração. 

A previsão é de que o segmento de baterias cresça ainda mais, transformando a indústria do lítio. Segundo Silvia França, tecnologista sênior do Cetem, espera-se que a produção mundial de lítio pule das atuais 163 mil toneladas – dados de 2015 – para 300 mil toneladas em 2020, podendo quadruplicar em 20 anos. Com isso, os atuais produtores só seriam capazes de fornecer 25% da matéria-prima necessária para atender à demanda, o que levará à necessidade de novos players.

O desenvolvimento da fusão nuclear – processo de obtenção de energia nuclear que, ao contrário da fissão nuclear atualmente usada, não produz resíduos radioativos – é outra possível revolução para a cadeia do lítio. Atualmente está sendo estudado na França, em projeto que une União Europeia, China, Japão, Coreia do Sul e Rússia, o desenvolvimento do primeiro reator termonuclear (ITER), que funciona a partir da fusão nuclear. 

Nelson Brasil (ABIFINA), Paulo Cruz (CNEN) e Olga Pustarnakova (Rosatom)

Os cenários nacional e internacional apresentam oportunidades para o crescimento da cadeia no Brasil. Os desafios, no entanto, são o desenvolvimento de novas tecnologias de produção – já que a transferência de tecnologia não ocorre no setor – e a ampliação do parque industrial para extração e produção do lítio – responsável por apenas 0,4% da produção mundial. O principal produtor brasileiro é a CBL, que tem reservas minerais medidas para mais 20 anos. Mas a capacidade de produção nacional ainda é baixa, se comparada a outros países. Em primeiro lugar vem o Chile, com 38,2% da produção mundial, seguido da Austrália (36,8%), da China (11,3%) e da Argentina (8,5%), segundo dados de 2015 da USGS apresentados pelo Cetem.

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