REVISTA FACTO
...
Mai-Jun 2009 • ANO III • ISSN 2623-1177
2023
73 72 71
2022
70 69 68
2021
67 66 65
2020
64 63 62
2019
61 60 59
2018
58 57 56 55
2017
54 53 52 51
2016
50 49 48 47
2015
46 45 44 43
2014
42 41 40 39
2013
38 37 36 35
2012
34 33 32
2011
31 30 29 28
2010
27 26 25 24 23
2009
22 21 20 19 18 17
2008
16 15 14 13 12 11
2007
10 9 8 7 6 5
2006
4 3 2 1 217 216 215 214
2005
213 212 211
//Artigo

Direito do povo à informação

Há bem mais de uma década entidades de jornalistas e instituições da sociedade lutam pela democratização dos meios de comunicação social. O direito constitucional à informação, de importância fundamental para o exercício da cidadania e da democracia, tem sido freqüentemente desrespeitado em questões da maior importância para o país. Isto contribui, certamente, para nos relegar a posições vexatórias nos principais rankings internacionais de desenvolvimento, particularmente no que se refere à corrupção, que causa grandes desgastes à classe política.

O presidente Lula se queixa freqüentemente de que a mídia omite e deturpa informações. Em recente relato revelou que, no último plebiscito, ele e as principais lideranças do PT preconizaram o voto no parlamentarismo. Não houve a devida divulgação. Trabalhadores e o povo, sem esclarecimentos, embarcaram na demagogia dos candidatos à presidência e de seus amigos políticos.

Dois dos nossos mais respeitados parlamentares, Pedro Simon e Franco Montoro, em discursos no Senado e na Câmara, acusaram os meios de comunicação de não divulgarem informações nem dados comparativos sobre sistemas de governo, como se tivessem preferência pelo vigente, em que há mais crises, escândalos e corrupção para noticiar. Montoro, em discurso proferido na Câmara em nome do Diretório Nacional do PSDB, chegou a declarar que os governos não querem o parlamentarismo para não terem diminuído o seu poder; que as oligarquias não o querem para continuar tratando de seus interesses diretamente com quem concentre todo o poder; e que a grande mídia também o rejeita, talvez pelo interesse em agradar o governo e as oligarquias que a sustentam com publicidade.

Pouco antes do plebiscito de 1993 sobre o sistema de governo, um evento que teria contribuído imensamente para o esclarecimento da população também foi, inexplicavelmente, esquecido pela mídia. Trata-se de um seminário realizado em São Paulo pelo cientista político Bolívar Lamounier e pelo Idesp, com a presença inclusive de especialistas estrangeiros, e onde a grande maioria dos participantes se manifestou a favor do parlamentarismo. A íntegra dos debates está em livro de Edições Loyola do Idesp. Da mesma forma, não mereceu comentários nos grandes jornais e revistas a proposta de emenda constitucional PEC-20/95, aprovada por unanimidade na Comissão de Constituição e Justiça e por 19 votos a 1 na Comissão Especial de Mérito da Câmara Federal, mas que vem sendo mantida engavetada por interesse do governo. Talvez pelo mesmo motivo a mídia não tenha dado a devida repercussão à entrevista do presidente do Congresso Nacional, senador José Sarney, publicada no Consultor Jurídico de 14/09/08, onde ele afirma que “a Constituição de 88 tornou o país ingovernável” e que “só o parlamentarismo, com o voto distrital misto, pode atender plenamente à estabilidade que todos almejamos no Brasil”.

A cumplicidade da mídia com o poder constituído tem alcance e consequências bem mais profundos. Desde a década de 80, a grande imprensa ignorou críticas unânimes das entidades de engenharia do País contra projetos governamentais grandiosos que visavam espoliar a sociedade brasileira. Um dos maiores exemplos é o do transporte ferroviário do minério da Serra de Carajás, no Pará, no qual o governo desembolsou cerca de 4,5 bilhões de dólares, embora não fosse a alternativa mais econômica nem a de maior poder indutor de desenvolvimento para a região. Esse empreendimento contribuiu para o aviltamento dos preços de venda do minério brasileiro a siderúrgicas estrangeiras e concorreu para o enfraquecimento da Vale do Rio Doce, que acabou sendo vendida ao preço irrisório de pouco mais de 3 bilhões de dólares. A dita “liberdade de imprensa”, neste e noutros casos bem conhecidos, assegurou, na verdade, a sonegação de informações da maior importância para a sociedade.

A ferrovia de Carajás e outras tantas obras de engenharia lesivas ao País tornaram-se fatos consumados, mas o aperfeiçoamento constitucional e do sistema de governo é assunto da maior atualidade e importância para a sociedade brasileira. Este deveria ser um objetivo do nosso Tribunal Superior Eleitoral, que talvez possa fazer com que essa questão tenha, a exemplo do que ocorre com a propaganda partidária, espaço regular na rede nacional de rádio e TV, em horário nobre, onde especialistas de renome poderiam prestar esclarecimentos sobre os prós e contras dos diversos sistemas de governo factíveis numa democracia. Somente em rede nacional de rádio e TV esse importante serviço pode ser prestado ao povo, uma vez que as emissoras, sejam comerciais ou públicas, vivem em constante competição e têm, isoladamente, reduzida audiência.

Para haver democracia é preciso que toda a sociedade seja bem informada, a fim de que possa decidir o que é melhor para o País, em eleições, plebiscitos ou referendos.

Brasilo Accioly
Brasilo Accioly
Engenheiro e Jornalista.
Anterior

Ouro Fino lança o hormônio Sincrodiol e se prepara para construção de nova indústria

Próxima

Quem está na Química Fina